Roberto Carlos Mendes, agrônomo da Emater, responsável pela organização do Encontro disse que a iniciativa do encontro nasceu da própria Emater e de sua experiência no setor. “O I Encontro de Agroecologia nasceu da própria emater e de nossas experiências nesse setor, porque eu já vivi o outro lado, pois passei dez anos vendendo defensivos agrícolas, contaminando muitas áreas”, afirmou.
Roberto disse mais que participou de um treinamento coordenado por Fernando Tinoco e abraçou a causa. “Para o município, esse encontro é muito importante, no sentido de fazer uma nova agricultura, de trazer uma nova forma de trabalhar a agricultura de forma sustentável”, afirmou, informando das experiências que já são feitas no município.
“- Há quase dois ano, a Emater vem trabalhando junto à fazenda São Vicente. “A proprietária, Fátima Sampaio trabalha dentro da proposta agroecológica, com a homeopatia, o biofertizantes, compostagem, porque na verdade a agroecologia é o reaproveitamento, a reciclagem dos materiais produzidos na propriedade, evitando buscar insumos na cidade, isto é, aproveita o que tem na propriedade para aplicar na melhoria da propriedade”, ressalta.
Fernando Tinoco: “Sacramento está saindo na frente”
Fernando Tinoco, um dos expert em Agroecologia no Estado, passou dois dias na cidade e diz que Sacramento está saindo na frente. “Agroecologia é um tem novo, agora é que realizamos o VI Congresso Brasileiro de Agroecologia e foi um dos maiores congressos na área das Ciências Agrárias, com 5 mil participantes, em Curitiba. O IV Congresso foi em Belo Horizonte. E digo que Sacramento está saindo na frente porque no estado de Minas menos de 50 municípios realizaram esse tipo de encontro”, afirmou, ressaltando que Agroecologia é um passo a mais do que a Agricultura Orgânica.
“-Sabe-se hoje que Agroecologia não é somente agricultura orgânica, é muito mais abrangente, por isso o meu recado nesse encontro será sobre Sustentabilidade, a produção sustentável de alimento. Vamos debater muito sobre isso, inclusive com técnicas, aulas práticas para mostrar o custo de produção e até onde podemos ir. Vamos refletir as nossas ações ecológicas no campo”, informou.
Questionado sobre o que é mais barato, ações ecológicas ou ações tecnológicas' a resposta veio de pronto: “Ações ecológicas são mais baratas que ações tecnológicas, mas trabalham juntas, garantindo quantidade, com muito juízo, a que chamamos de produtividade com juízo ecológico, ou seja, até onde podemos avançar nas questões tecnológicas”.
Tinoco ressaltou ainda que uma das principais dificuldades encontradas para a prática de ações ecológicas é a falta de informação. “A desinformação é grande, o pessoal ainda não tem as informações necessárias sobre o assunto, como as têm sobre os produtos convencionalmente usados que estão aí no comércio. Aqui vamos ter uma transmissão de conhecimentos teóricos e práticos e, muito mais que isso, vamos nivelar conhecimentos, porque há muito preconceito contra agroecologia”, explicou.
Concluindo, frisou que a prática de ações ecológicas dependem do agricultores. “Isso é uma mudança de postura das pessoas, que independe de governantes, eles são bem-vindos, sim em ações como esse encontro, apoiando, dando suporte, mas a mudança de postura tem que começar como produtor, que vai ganhar com isso na economia, na sustentabilidade, porque ele vai reaproveitar produtos de produtos dele”, finalizou Fernando Tinoco.
Juntar o saber fazer ancestral ao rigor técnico cientifico não é fácil
Maria de Fátima Fajardo Archanjo Sampaio, doutora em Engenharia Agrícola e professora da Universidade Estadual de Campinas, inclusive com participação no IV Congreso Europeu Latinoamericanistas CEISAL, em Bratislava, na Eslováquia, em julho de 2004, como coordenadora (convenior) no debate, “Sistemas Agroalimentarios”, um dia deixou tudo na cidade grande e veio viver no meio rural, conforme justificou em recente entrevista ao ET. “Cansei de ver projetos engavetados e decidi eu mesma colocá-los em prática”.
Fátima se confessa feliz com o resultado da parceria que culminou no I Encontro Agroecológico. “Fiquei muito feliz em ver que a idéia saiu do papel, estamos colhendo os primeiros frutos de um trabalho difícil, mas muito gratificante. Juntar o saber fazer ancestral ao rigor técnico cientifico não é fácil, precisamos construir pontes que, muitas vezes, estão totalmente destruídas e há coisas no meio fazendo muito barulho. É um trabalho difícil juntar essas duas coisas, o saber popular e o acadêmico, mas já conseguimos abrir trilhas importantíssimas e esse encontro é fruto desse trabalho, isso porque encontramos as pessoas certas”, comentou.
Fátima chama atenção para a mudança de postura do produtor rural. “Da terra tiramos energia e temos que devolver alguma coisa, por isso precisamos cuidar dessa relação para termos um custo benefício bom. Percebemos que o produtor rural está muito cansado, muito explorado e a relação deles com a terra é de uma exploração voraz, que tem que ser mudada, é só uma questão de postura”, salientou.
O secretário de Agricultura, Luiz Constantino Bizinoto, participou do Encontro e destacou a sua importância para o produtor rural. “São novas práticas que vão ser mostradas e hoje, principalmente para os pequenos produtores, é importante conhecer novas alternativas que vão dar bons resultados”, disse.
Falando sobre os investimentos da prefeitura dentro do projeto de Agroecologia, Luizão destacou a fazenda São Vicente. “Lá, o processo está bem adiantado e estão sendo mostrados os resultados para as associações rurais e cada uma delas está representada aqui hoje”, disse. Ainda de acordo com o secretário outras práticas estão sendo implementadas tais como, a lavoura de mudas de café (200 mil) e eucalipto (300 mil), que já estão sendo distribuídas aos produtores cadastrados, além da horta comunitária que serviu de laboratório para as oficinas do Encontro Agroecológico.