O Centro de Recuperação do Alcoólatra – Cerea de Sacramento realizou, de 15 a 17 últimos, mais uma festa em louvor a São Francisco de Assis, no salão de festas da Paróquia d'Abadia, concomitante com a Semana de Prevenção ao Alcoolismo.
O tríduo final começou na sexta-feira, com a tradicional caminhada levando o andor com a imagem do protetor, saindo da sede do Cerea até a Matriz de Na. Sra. d´Abadia, seguida do terço iluminado e cantado por todos. O sábado, 16, foi marcado pela missa animada pelo Coral dos Cereanos, coordenado por Derly Silva Loyola e, no domingo, a missa de encerramento, às 16h00, seguida da procissão de São Francisco de Assis e bênção das flores e instrumentos.
Na parte social, quermesse com leilões, pechinchão e animado forró, na noite do sábado; no domingo recepção das caravanas de cereanos visitantes, passeata pela cidade, almoço de confraternização com os mais de 100 visitantes e forró até as 16h00, ao som da Banda Forró Vim te Vê. Muita participação, animação e alegria marcaram a festa cereana, sem uma gota de álcool, fazendo jus ao lema: “Em cada gota de álcool está uma lágrima de mães, esposas e filhos.”
O presidente Olício Inácio, Zezeu, cereano há mais de 20 anos, reconhecido pelo apoio da sociedade agradeceu à Paróquia, à Prefeitura, aos cereanos e aos visitantes. “Somos o grupo que São Francisco escolheu pra dirigir o Cerea nos próximos dois anos. Estamos realizando mais uma festa em seu louvor e, junto, mais uma Semana de Prevenção ao Alcoolismo, graças à ajuda da comunidade como um todo”, agradeceu.
A relações pública, Heliana Oliveira Barcelos disse que a festa é resultado do trabalho de todos os cereanos. “É muito gratificante esse trabalho, os cereanos são uma família que ganhei. Sou cereana há dez anos. Estou no cargo de relaçoes públicas, mas mesmo sem cargo continuarei a ser cereana até morrer”, frisou Heliana, que criou um grupo teatral com os cereanos, para a apresentação da peça, 'Recado', com testemunhos cereanos.
“O alcoolismo é um dos males da sociedade”, afirma presidente da Federação
Prestigiando a festa cereana há dez anos, Adão Alves da Silva, do Prata, presidente da Federação Mineira de Cereas, elogiou mais uma vez o encontro. “Poucos Cereas no Estado realizam a Semana de Combate ao Alcoolismo, que é tão importante. É uma semana inteira para divulgar o trabalho e conscientizar sobre os males do alcoolismo. Muitas cidades deixaram de realizar a semana e fico feliz por ver que ela continua sendo realizada em Sacramento e termina de maneira tão bonita, tão acolhedora, dando exemplo de que podemos nos divertir sem beber, porque o álcool é ingrato, ele vai devagarinho, devagarinho e de repente a pessoa está viciada. É um dos grandes males da sociedade”, afirma.
Adão lamenta o não reconhecimento dos Cereas pelo Estado e pela União. “Nem o Estado, nem a União reconhecem a grande importância de nosso trabalho, dessa terapia grupal que fazemos pra deixar o vício, sem o uso de medicamentos e que já recuperou tanta gente para a família, para o trabalho, para a sociedade. Ao não reconhecerem, oficialmente, a entidade, não somos contemplados com verbas. As únicas subvenções que nos chegam são das prefeituras”, informa.
Segundo Adão nem mesmo o Unicerea, entidade nacional que reúne os Cereas do país, nem mesmo as três federações de Minas Gerais, São Paulo e Goiás são reconhecidas a nível estadual e federal. “Se não fossem os recursos das prefeituras, não sei como seria, porque a maioria dos cereanos não dispõe de recursos. Temos viagens de integração, temos reuniões, porque é isso que fortalece a pessoa”, disse mais, depositando esperanças no trabalho de três cereanos eleitos deputados, que prometeram trabalhar para esse reconhecimento, os federais Gilmar Machado e Welington Prado, e o Elismar Prado, que é estadual.
João Batista de Morais, Cabo Morais, também da cidade do Prata, coordenador regional do Cerea, também dá um bonito depoimento. “Há 26 anos sou cereano, estou tratando a primeira dose. O alcoolismo é uma doença que domina a pessoa aos poucos e nesses 26 anos, faço tratamento todos os sábados freqüentando as reuniões do Cerea, Minha doença está paralisada, se eu tomar uma dose, voltarei para a sarjeta. Graças ao Cerea me mantenho sóbrio há 26 anos, o que é bom para a minha família, a sociedade, a minha profissão”, explicou.
Segundo Cabo Morais, o alcoolismo não escolhe profissão. “As pessoas estranham de eu ser um cereano policial ou policial cereano, mas o alcoolismo não escolhe profissão, condição social, idade nem sexo, ele impera em todas as classes. Aqui estou um ser humano, que no passado foi um alcoólatra, hoje, em tratamento nas reuniões, em encontros como esse, conversando com outros cereanos e tem que ser sempre assim, isso é que é a nossa dose de remédio. Sem esse remédio, esse apoio do grupo a pessoa se perde”, esclarece.
Eurípedes Aparecido Garcia Moreira, coordenador dos Cereas do Estado de São Paulo, que participa da festa desde 1997, elogiou a festa. “Temos essa festa como um dever de casa, é um momento de estar com outras pessoas que viveram os mesmos problemas nossos, o alcoolismo e se livraram graças ao Cerea. Esses encontros fortalecem laços, valorizam o cereano e toda cidade deveria ter festas assim”, afirmou.