Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Banco do Brasil: 50 anos em Sacramento

Edição nº 1205 - 14 Maio 2010

De acordo com Ignácinho, a inauguração do  BB em Sacramento deve-se a  duas pessoas: o fazendeiro, Alberto Marquez Borges e o ex-prefeito, José Ribeiro de Oliveira, o Dr. Juca. “O banco foi inaugruado em 1960, mas ele já devia estar na cidade há mais tempo, só não foi por  questões políticas. A autorização para a criação do BB em Sacramento já havia saído, mas a política desviou a  agência para Frutal e Sacramento ficou a  ver navios. Aí começou um trabalho muito grande do Dr. Juca e do Marquez. Eles deram uma 'prensa' no pessoal e conseguiram a agência. O então presidente do Banco do Brasil, Sebastião Paes de Almeida, que acumulava também a função de ministro interino da Fazenda, foi quem assinou a autorização da criação da agência de Sacramento, durante uma visita feita ao Barreiro,  em Araxá, em   1958”, conta mais.

A primeira agência do BB na cidade foi instalada na esquina da avendia Benedito Valadares com a praça Getúlio Vargas, onde funciona hoje a Ótica Alves, com 12 funcionários: Heitor Siviere Neto (Gerente) Abel Newpmann (Sub Gerente), Abissaí Fernandes (Caixa), Antonio Pereira da Silva (chefe da Carteira Agrícola), Idelson de Souza (chefe de Cadastro), Orestes Tarquinio Júnior (Recursos Humanos), Ângelo Natal de Paiva, João Bosco da Cunha Campos, Rolando Soares  e  Hélio João Siviere (Escriturários), Luiz Antônio Vieira Tormin e Ignácio Loyola (Quadro de Apoio) .

Segundo Ignacinho não havia outros funcionários. “Não havia os cargos de faxineiro, nem de guarda. O Luiz Antônio e eu éramos os responsáveis por esses serviços de limpeza e café. Fiz esses serviços um bom tempo, depois fui para a cobrança e outros cargos até me aposentar. A admissão para todos os funcionários já através de concurso, que prestei em Uberaba. Havia no banco apenas um caixa e lembro-me do primeiro cheque descontado, que foi do Eurípedes Ferreira da Silva e o primeiro depósito foi feito pelo Fozo Maluf”, recorda. 

Inácio, o unico dos pioneiros a aposentar-se na agência local, tornou-se o guardião da história do banco. “As máquinas daquela época e os documentos mais antigos estão hoje no Museu Municipal 'Corália Venites'. Fui reunindo os documentos antigos, máquinaria, porque isso é história. Um dia pedi autorização  para a direção geral para criar o museu do BB da cidade e foi autorizado. Isso me deu muita alegria e repercutiu. Tanto que, um dia, estava na praia, alguém gritou o meu nome e me cumprimentou pela criação do museu. A notícia do museu correu. Mas depois pedi pra levar todo esse acervo para o museu para o povo conhecer e ter uma melhor conservação”, informa. 

 

Duas mudanças em 50 anos

 

O crescimento do BB na cidade foi vertiginoso. Nos primeiros oito anos de funcionamento o prédio da primeira agência ficou pequeno. A filosofia, naqueles bons tempos, era construir uma sede própria. E duas agências foram construídas em Sacramento. A primeira, onde hoje é a Eletrozema, na rua Clemente Araújo. 

“- Ali o banco começou uma nova fase com os caixas executivos. O Gerente era o Leopoldino Ramos de Lima. Ele foi gerente durante 14 anos. Aumentou muito o pessoal, a começar com o número de caixas. O banco passou da posição J para a D, alcançando o nível de grandes agências”, informa Ignacinho, fazendo uma revelação surpreendente: “Cheguei a trabalhar com 50 funcionários, dos quais 16, eram caixas executivos, sem contar o pessoal de serviços gerais e os seguranças”. Hoje o Banco trabalha com apenas 12 funcionários e mais oito terceirizados. 

Nas suas lembranças, o ex-funcionário conta também que só nesse novo prédio o banco passou a ter seguranças contratados pelo próprio Banco do Brasil. “O primeiro guarda  foi o José Inácio, depois o Luiz Almeida, mais conhecido com Luiz Deiró.  Não havia roubos, durante o tempo em que trabalhei lá nunca houve assalto. Só a partir de 1986 é que a segurança e a limpeza pasaram a  ser terceirizadas”.

A segunda sede oficial do Banco na cidade foi inaugurada 12 anos depois, com a construção de um imponente prédio na av. Benedito Valadares. No dia 1º de junho de 1980, o jornal ET informava na sua edição dominical: “O Banco do Brasil S.A., agência de Sacramento, marcou a transferência para sua nova sede, no último domingo, 25 de maio, sem as esperadas solenidades de festa, nem a presença dos diretores do Banco (...) A direção geral determinou uma simples mudança de prédio (...) Em nome do Banco, falou o funcionário mais antigo da agência, Ignácio Loyola”. 

O Banco do Brasil não foi o primeiro banco da cidade, já havia outros, o  Banco da Lavoura, o Comércio e Indústria de Minas Gerais e o Credireal. Mas para Ignácinho, a história de Sacramento pode ser contada 'antes e depois do Banco do Brasil'. “Em 1960, a cidade tinha a telefônica, tinha dois bancos, tinha uma estrutura boa, mas carecia de muitas coisas. Era uma pobreza muito grande na zona rural. Não havia um banco voltado para os fazendeiros. Com o BB começaram os financiamentos e houve uma melhoria grande, inclusive no rebanho, na bacia leiteira. Outros bancos fecharam, aí veio a Caixa que deu um impulso muito grande  na cidade, trazendo muitos outros beneficios. Sacramento tem duas histórias, antes e depois do Banco do Brasil”, analisa. 

 

A modernidade e a redução de pessoal 

 

Primeiro era tudo manual, veio a mecanização, depois a automatização até chegar à era da informática e internet... Os 50 funcionários deram lugar a 12. O Banco 'mais popular do mundo', aproveitando a transformação mundial da chamada 3ª via, o neoliberalismo, também cedeu ao capitalismo selvagem das grandes corporações financeiras, enxugou o quadro, minguou os salários e aumentou os lucros. 

Quase toda essa fantástica transformação foi vivenciada por Ignacinho Loyola. “Quando o banco começou, era tudo manual. Tudo monografado. Havia máquinas para somar, calcular juros, imprimir cheques (os cheques eram feitos na própria agência. O cliente fazia a requisição, no fim do dia a gente conferia e ia fazer os talões). A máquina de imprimir talões de cheques está no museu. Os balacentes eram impressos à agua. A gente fazia o balancete com tinta copiável, aí levava pra prensa manual. Nela havia uma flanela, que era umedecida e passava a cópia para o papel de seda. Um papel finissimo. Isso era feito diariamente. Os livros também estão no museu”, diz. 

Entretanto,  ao contrário do que ocorre hoje, o atendimento era ágil, nao havia filas. “À medida que o banco foi crescendo, foram chegando mais funcionários e criados os caixas executivos. O pessoal fez curso no Rio de Janeiro antes da implantação desses caixas. Essa implantação aconteceu já na agência onde é a Eletrozema.  Muita gente trabalhava no banco. No banco, todo mundo chegava com cheque ou dinheiro e tudo passava pelos caixas, mas  o atendimento era rápido. Não havia muita espera”, diz mais.

“Era um tempo bom – prossegue Ignacinho, revelando uma minuciosa memópria - porque os funcionários tinham mais contato com o cliente. Quando o banco mudou para o atual endereço havia 16 caixas. Tínhamos 1.200 contratos agricolas e industriais. Era muito papel, mas era tudo muito ágil. A clientela aumentou muito, hoje se faz tudo através de bancos. Mas com a informatização reduziu muito o pessoal. Eu, particularmente,  acho errado, porque os funcionários trabalham muito fustigados”. 

A correria moderna, segundo Ignacinho acabou um pouco com o calor humano que existia antigamente, entre os próprios funcionários e com os clientes. “Eu sinto que hoje não tem mais aquele calor humano, que tínhamos, não tem mais o cafezinho da tarde juntos, como fazíamos. Ia uma turminha tomar café, ali conversávamos, ríamos, depois ia outra turma”. 

Para o ex-funcionário, o progresso afastou as pessoas. “Os funcionários não têm contato com os clientes, acho que nem sabem  os nomes. O cliente virou número, cartão. É tudo  número, número e máquinas. Antes, o cliente era cumprimentado, pegava-se na mão, os caixas sempre com um sorriso, porque todo mundo se conhecia. Hoje entra gente sai gente do banco e os clientes nem conhecem. Perdeu muito o lado humano com a modernidade. Mas fazer o quê, é a modernidade”, pondera. 

Recorda também algumas exageradas exigências do banco. “O banco era muito rigoroso, a gente tinha que trabalhar de paletó e gravata, camisa social. Não podia ir com roupa esportiva, fizesse frio ou calor. Mas felizmente isso acabou”. 

De acordo com Ignacinho, o Banco do Brasil  passou por três etapas: a da inauguração, tudo muito rústico; a segunda, com a implantação dos caixas executivos, que melhorou muito e, a terceira, com a informatização, com o advento dos computadores, o que exigiu uma capacitação de todos os funcionários. 

“- Eu me lembro que a gente eligava aquelas máquinas que trabalhavam sozinhas, a gente ficava maravilhado, ficávamos namorando a máquina fazer o serviço. Só que foi tudo muio rápido, logo as máquinas começaram a ser trocadas por outras mais modernas,  mais rápidas e hoje , todo dia surge uma máquina nova e as outras vão se tornando obsoletas muito rápido. É claro, ficou mais facil, a pessoa busca uma informação na central ou em  qualquer lugar na hora... E pensar que quando começamos era o tempo ainda da Telefônica de Sacramento, que fazia nossas ligações interurbanas!”, exclama.

O BB foi uma dádiva para Sacramento
Dos 12 primeiros funcionários do BB, além de Ignácio Loyola, mais quatro estão  vivíssimos para contar a história: Antônio Pereira da Silva, Abissaí Fernandes e Orestes tarquinio Júnior. “Alguns funcionários que começaram aqui continuaram, outros mudaram, mas todos se aposentaram  no banco. “O Heitor, aposentou-se como inspetor, alguns como gerentes. Dos primeiros, 'o veinho' aqui é que aposentou na agência de Sacramento, depois de 30 anos de trabalho, sem faltar nem um dia.  Nos 30 anos no BB, aqui, trabalhei com muita gente e muitos outros aposentaram na cidade e muitos saíram com o programa de desligamento voluntário e não se aposentaram. 
Passaram pela agência como gerentes, segundo Ignacinho, Heitor Siviere, Leopoldino Ramos de Lima, um dos gerentes que mais tempo permaneceu na cidade, 14 anos; o Matozinhos, Orlando Tarifa, Nilton, Joás, Nilton Alves da Silva e outros, que não me lembro o nome, alguns vinham e ficavam pouco tempo. Depois que aposentei já passaram pelo banco quatro outros gerentes”. 
Ignácio afirma com um tom saudosista: “O Banco do Brsil foi uma dádiva, um esteio para Sacramento. Parece que passou muito rápido na minha vida e esses 50 anos passaram muito rápido. Dou graças a Deus de ter podido trabalhar lá. Essa data de 50 anos é muito importante para a cidade”, diz, deixando um recadinho para os atuais e os futuros funcionários: “Não importa a função que ocupem dentro do banco, cada um tem que amar o que faz, exercer com galhardia, ser humano, receber bem o povo que vai ali, orientá-lo bem, com espírito humanitário. Isso gratifica muito a vida da gente e cuidar bem do Banco, que é um patrimônio de Sacramento”.