Uberabenses de nascimento, mas sacramentanos de pais e de coração, os irmãos Priscila, 30, e Giuliano, 26, cresceram em diferentes lugares do país, por força da profissão do pai, Tomás de Aquino Afonso (Rosângela Araújo). “De Uberaba, passamos por vários lugares, o primeiro deles, Porto Velho, depois Cuiabá, Natal, inclusive Sacramento esteve na nossa rota. Estudamos na Escola Coronel e, finalmente, Goiânia, onde cursamos faculdade”, contam.
Reconhecem ambos que a ligação com Sacramento é muito grande. “Aqui estão nossos avós, Almir e Cida Miranda, do lado paterno; e Amélia e vô Agatângelo, que já faleceu, do lado materno, tios e primos”. E foi na casa da vovó Amélia, que os jovens receberam o ET para um bate papo.
Priscila já formada em Farmácia, trabalhando em Goiânia, e Giuliano nos estudos de Engenharia Mecânica já planejava o futuro. E não deu outra, concluído o curso, depois de um ano embarca para a Irlanda.
- Mas Irlanda, aquele país gelado, conflitos internos, do IRA?! “Esse mesmo, respondem sorrindo, mas deixando claro que agora só voltam lá a passeio. Primeiro, prá aprender Inglês; segundo, o país não exige visto de entrada. E assim foi por três anos. Mais tarde, a irmã Priscila e o marido Thiago Lacerda, que não é o ator global, juntam-se a Giuliano na ilha européia.
Então, vamos aprender um pouquinho sobre a terra de James Joyce e Oscar Wilde...
Conheça um pouco da Irlanda
O diploma de Engenheiro Mecânico foi prá gaveta. Giulio chegou encontrando grande dificuldade com o idioma. “O inglês da Irlanda é um dos mais difíceis, é muito carregado, e quando a gente chega é um susto, pois o que aprendemos aqui, não vale nada”, conta, informando que nos primeiros meses ficou hospedado em casa de duas famílias, que recebem turistas, em troca de diárias, fornecendo hospedagem, comida, e roupa lavada.
Já ambientado, mudou-se para um república e foi trabalhar em um cinema, onde permaneceu durante os três anos, chegando a supervisor, com vencimentos semanais entre 250 a 300 euros (R$ 600,00), com jornada diária de trabalho de cinco horas. “O preconceito com imigrantes é grande dentro do mercado de trabalho, principalmente depois dessa crise mundial. Os melhores empregos ficam com os irlandeses, depois os europeus e, finalmente, os imigrantes. Mas cheguei a supervisor do cinema e fui chefe da Priscila, que chegou lá e foi trabalhar no mesmo lugar onde eu era chefe”, relatou.
Com a chegada de Priscila e o marido Tiago a Dublim, os três se juntaram e optaram por um apartamento. “A vida lá é muito cara, caríssima, tudo é importado. O salário dava pra viver, comer bem, apesar de a comida não ser boa, pagar aluguel, viajar e ter algumas mordomias”, avaliou.
Para os jovens, apesar da dureza do trabalho, a experiência não tem preço. “Valeu a pena demais, mas voltar pra lá, só a passeio...”, diz Giulio, justificando: “Lá é muita chuva, muito vento, a sensação térmica é horrível”, no que concorda Priscila: “A primeira coisa que me assustou ao chegar foi o vento, o clima lá é horrível, e depois foi o idioma”.
Numa avaliação da vida no país, Priscila e Giulio apontam muitas diferenças:
Dublim: “É uma cidade marítima, banhada pelo oceano irlandês. Não é uma cidade muito grande, tem cerca de 1,5 milhão de habitantes. A economia é baseada em eletro eletrônicos. Tudo o que se produz lá sai de navio. A cidade é espalhada, a área da cidade é muito grande, não tem prédios altos. Morávamos no lado sul e transitávamos entre o centro e o sul da cidade, nunca fomos ao lado norte”.
Educação: “Toda família recebe ajuda de custo do governo para manter os estudos dos filhos, independente da condição financeira. As escolas são privadas e públicas, mas estas são tão boas como as particulares. A diferença é só status. As escolas públicas só são permitidas para os irlandeses, imigrantes vão para a privadas. Agora, no interior do país, há poucas escolas, se uma família quiser uma vaga para o filho tem que programar., às vezes antes de ele nascer. Há pouquíssimas escolas no interior”.
Jovens: “São bem diferentes dos brasileiros. Recebem ajuda do Governo para estudar, mas não têm muitas perspectivas. Concluem a escola secundária, mas não se preocupam com o ingresso nas universidades, que são ótimas. Eles se contentam em trabalhar, por exemplo num cinema, juntam dinheiro e viajam. Quando o dinheiro está acabando, eles voltam e trabalham novamente. Normalmente, quem cursa universidade, sai do país”.
População: “Não há muitas desigualdades, não existem miseráveis no país, embora existam os malandros bem vestidos pedindo dinheiro. Existem programas do governo que ampara as pessoas, do tipo Bolsa Família. Se a pessoa precisar é só recorrer ao governo. Qualquer cidadão que tenha filhos recebe automaticamente ajuda do governo para cada um dos filhos estudar. Uma coisa que chama a atenção é que as pessoas bebem muito, uísque, cerveja, freqüentam muito os pubs. Mas as pessoas não se preocupam umas com as outras, é cada um pra si”.
Sistema de saúde: “Péssimo, pior que o do Brasil. Um dia Thiago passou mal com uma crise renal. Fomos ao pronto socorro, pagamos 100 euros na emergência, ('taxa de emergência', obrigatória para ser atendido), eram 16h30 e ele só foi atendido dez horas depois, às 2h00 da manhã. Logo que chegou foi atendido pela enfermeira, que olhou, deu medicamento para dor e, às 2h00 da manhã, a médica chegou, pediu uma série de exames todos incluídos na taxa, e veio com o diagnóstico: 'aguarde pela manhã o urologista'. Por isso que eu digo que é preciso a gente conhecer o atendimento noutros lugares para dar valor no que temos aqui no Brasil.
Alimentação: “Horrível, a base é a batata. É tudo enlatado, a carne é péssima, tem um gosto diferente, ruim, mesmo as compradas em casas de produtos brasileiros, onde comprávamos feijão e outros produtos brasileiros. A comida foi o que mais sentimos falta”.
Segurança: “Ótima. É o único país do mundo em que ninguém usa armas, nem a polícia. Armas lá só para caça, mas com um controle muito grande, é muito rigoroso e o indicie de criminalidade é baixíssimo. O que dá trabalho lá para a policia lá são os bêbados, porque é proibido sair bêbado na rua. A primeira vez a pessoa é levada pra casa e advertida; na segunda vez é presa por um dia; e, a partir da terceira vez, a pessoa é presa e paga multas, o equivalente a 100 euros.
Nackers: São a grande preocupação da polícia. Eles se caracterizam pela intolerância contra os estrangeiros, agridem espancam. Eles são meninos ainda, de 12, 13, 14 anos e são fáceis de ser reconhecidos, porque andam em bando e se vestem sempre iguais. Eles são descentes dos nativos e concentram mais na parte norte, mas estão espalhados pela cidade, os estrangeiros evitam ir à parte norte, porque é perigoso, quando não há polícia por perto”.
A partir de agora, Giuliano permanece no Brasil, onde pretende retomar a sua profissão de engenheiro mecânico. Priscila, fica no Brasil até o dia 14 de dezembro, depois se juntará ao marido Tiago Lacerda, em Miami, onde fixará residência.