A água pluvial (de chuvas) despejada diretamente na rede de esgoto, através das calhas, condutores ou ralos de quintais está provocando o mau cheiro da Estação de Tratamento de Esgoto – ETE, do SAAE, localizada na saída da Rodovia Antenor Duarte, da Gruta dos Palhares. “Essa água que cai do telhado ou no quintal não pode ser jogada na rede de esgoto. O correto seria que essa água de chuva escoasse através dos condutores para a rede pluvial ou, simplesmente, para a sarjeta da rua, porque dali ela escorre até o próximo bueiro”, alertou o diretor do SAAE, Osny Zago, justificando o mau cheiro da estação, objeto de reclamação, principalmente, dos moradores mais próximos da ETE.
Para que foi construída a ETE
A ETE foi construída para tratar o que chamamos de efluente doméstico, isto é, tudo o que é descarga dos vasos sanitários, banheiros, pia de cozinha e de tanque de lavar roupas. Portanto, foi feita para tratar água de esgoto, com um pico em torno de 120 a 144 metros cúbicos de esgoto, por hora. Isto quer dizer que, as bactérias que estão ali concentradas naqueles dois piscinões alimentam-se de toda essa matéria orgânica, processando a limpeza do esgoto para ser devolvido em forma de água limpa para o leito do ribeirão Borá. Aí quando vem a enchente, já registramos 700 metros cúbicos por hora, quase quatro vezes mais.
O que causa o mau cheiro
Nesta época de chuvas e, principalmente este ano, estamos assistindo a um aumento considerável delas, já registramos um pico de até 700 metros cúbicos de esgoto por hora, isto é, quase 500% a mais da capacidade de esgoto que, na verdade, com toda essa água na rede de esgoto, chega ali bastante diluído. A água que cai na calha e vai para o esgoto é água limpa, não tem efluentes, dejetos, então como há muita água, as bactérias que estão no tanque para digerir a matéria orgânica não resistem. Com isso, as bactérias começam a passar fome. Não tendo comida, de um dia para o outro, elas morrem. Morrem bilhões de bactérias e entram em estado de putrefação, gerando gás sulfídrico, que é muito volátil, exalando e propagando o mau cheiro para a cidade, principalmente quando a corrente de ar está nessa direção.
90% das bactérias podem morrer
Segundo estudos feitos, se persistirem essas chuvas torrenciais, uma vez por semana, 90% das bactérias da ETE podem morrer. Aí o mau cheiro não será mais das bactérias em putrefação, mas do próprio esgoto, que formará o gás metano, com um cheiro horrível na cidade. E se isso ocorrer, o processo volta à estaca zero: quando levamos seis meses para fazer a cultura de bactérias nos dois piscinões. Para isso teremos que ir noutra cidade buscar caminhões de efluentes, dejetos de esgoto, para adicionar na Estação para recuperar as bactérias. E o pior, com isso o SAAE pode perder a licença de operação da ETE, ser multado, e o município deixar de receber recursos advindos da estação de tratamento.
Qual a solução para o problema
É simples: proibir o lançamento da água de chuva na rede de esgoto da cidade. Mas aí encontramos um problema, 43% das casas do centro da cidade e alguns bairros mais antigos têm pelo menos um ponto de lançamento de água pluvial na rede de esgoto. Já há algum tempo, desde o ano 2.000, a Prefeitura só está concedendo o 'Habite-se' aos proprietários das residências que, efetivamente, respeitarem esse princípio de construção ou reforma de casas: duas redes, uma para esgoto e outra para a água pluvial. Do contrário, não recebe o 'Habite-se'.
Lei pode obrigar morador
Há também a questão da conscientização de cada família, no sentido do próprio morador, mesmo sem a casa estar em reforma, conscientizar-se do dano que está causando ao meio ambiente e, voluntariamente, corrigir o problema, isto é, retirar a água dos telhados e quintais da rede de esgoto. Fica na consciência de cada um. Entretanto, como o problema está se agravando e está prejudicando o SAAE, que pode ser autuado pela FEAM, por crime ambiental, é nossa obrigação também criar uma lei específica obrigando os proprietários a retirarem a água de chuva do esgoto. No caso de ainda não cumprirem a lei, essas pessoas serão enquadradas na lei de crimes ambientais. Aí a Justiça vai decidir o procedimento para que se erradique a água de chuva do esgoto sanitário.