Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Cidade perde o grande Onobuge

O horticultor, Onobuge Karashima, 84, morreu nessa quarta-feira, 5, em sua residência, quando assistia a um jogo pela TV, vítima de parada cardio-respiratória. O seu corpo foi velado em sua própria casa, por familiares e muitos amigos. No dia seguinte, às 12h00, com uma grande carreata acompanhado o féretro foi enterrado noCemitério S. João Batista.

Casado com Maria, Onobuge deixa os filhos Heide,Nobuhiro, Yoshihiro (Norma) e Misa (Leandro Scalon) e sete netos, a quem deixa um vazio imenso pela convivência e lições de uma vida inteira voltada à dedicação e amaor à família.

Os pais de Onobuge, Nobuemon e Sono (Da. Helena) Karashima, chegaram ao Brasil, no início do século passado junto a outros imigrantes japoneses. Após passarem por outras cidades radicaram-se em Sacramento e aqui construíram uma vida, uma história. Onobuge nasceu na região da Mumbuca, onde trabalhavam os pais.

Mudando-se para Sacramento, adquiriram uma chácara onde começaram a plantar verduras, que logo ficou conhecida como ‘Chácara da Japonesa. Amigos foram conquistados aos poucos, foram dezenas, os conhecidos perdem-se as contas.

As ruas da cidade, Onobuge conhecia-as palmo a palmo. As pedras da Cônego Julião Nunes, por certo sabia quantas, mas lembrava-se bem da estrada dos primeiros tempos, chão batido, cascalho, poeira... Primeiro com a carroça, depois com o Kombi, ´modernidade´, como dizia.
E foi vivendo, tirando da terra o seu sustento e o da família. Verduras melhores não existiam na praça e era garantida. Nem mesmo a doença que teimou em aparecer nos últimos anos o impedia de amar o trabalho, a terra, as verduras, que estiveram presentes em sua vida até o seu último dia. Pela manhã, plantara junto com Maria as últimas mudas de alface. À, tarde despediu-se da vida. “Tranquilo, feliz”, como narrou o filho Biro. À noite caiu a chuva, por certo eram a terra e as plantas chorando a perda do amigo tão presente...
(...) As lembranças serão muitas e de muitos, dentre eles os amigos Antonio Loyola, 77 e Almir Afonso, 79, que, emocionados, recordam-se da amizade que os unia. Antonio era o amigo de pescaria, durante 30 anos, junto com Zé Dentista, Arnaldo Pavanelli e, às vezes, o Pimpão. Mas o três eram inseparáveis, chegavam os domingos e feriados e lá estavam no Clube dos 13, Antonio, Onobuge e Zé. “Onobuge e eu sempre fomos bons amigos e a nossa amizade começou nas pescarias no rio Grande, porque pescaria não é só pegar o peixe, são os companheiros, o bate papo, as boas risadas. Pescamos juntos até 1995, quando o Zé morreu. Mas a nossa amizade era muito sadia, coisa rara nos dias de hoje”, recorda Antônio.

“Ele era engraçado, o jeito de ele contar as coisas cativava, a gente dava boas risadas. Com a morte do Zé, parece que a gente foi perdendo a motivação”, conta recordando alguns fatos pitorescos. “Ele gostava de conhecer e oferecer os préstimos pra aqueles engenheiros japoneses que chegavam. Ele chegava, oferecia aqueles tira- gostos que ele fazia e puxava conversa”.
Da turma, Antonio é o último dos ‘moicanos’. E desabafa: “A vida é engraçada, as pessoas vão acabando e hoje só resta eu, mas fazer o quê, é esse o nosso fim. São perdas grandes na vida da gente e ficam as lembranças. Depois que paramos as pescarias ele passava em casa todos os sábados, levava o tira-gosto e a gente bebia uma cerveja juntos. Depois foi parando, até parar definitivo há uns dois anos”. Algo marcante para Loyola foi o parar de fumar da turma “Onobuge, Arnaldo, Zé e eu, todos fumávamos e um dia combinamos de parar e paramos. Depois, todo ano quando chegava a data ele fazia uma janta na casa dele pra gente comemorar a data em que deixamos de fumar”, lembra mais.

Com muito ainda a contar, Loyola encerra dizendo: “Quando morre alguém, se é homem, diz-se morreu um homem, mas nesse dia 5, morreu um Homem, mesmo, pessoa lutadora,leal, honesta, de bem com a vida, gostava do que fazia, amava a terra e a natureza, deixou exemplos pra cidade”, finaliza. A última vez que Antonio Loyola esteve com Onobuge foi uma semana antes de sua morte.

Foi um grande amigo que a gente teve

Almir Afonso, o seu Nenê do Alaor, esse era o amigo dos bailes. “Onobuge foi dançador, gostava de bailes e ia com a dona Maria. No Sacramento Clube tínhamos a mesa 80, era cativa. Qualquer evento, a mesa era nossa. Mesmo se não fôssemos. E tinha um lugar estratégico”, lembra sorrindo: “Ali passavam as mulheres que iam ao toalete, sem contar as escapadinhas que a gente dava pra ir nos bailes do 13 de Maio, que funcionava ali onde era a máquina do Dr. Juca, na Visconde do Rio Branco”,, recorda, sendo atalhado pela mulher Aparecida: “E Maria e eu íamos atrás dos dois para buscá-los de volta”.

“Mas a nossa amizade fortaleceu mais foi quando ele me avalizou pra comprar o açougue do papai. Fui até ele e pedi dinheiro emprestado. Ele disse: ‘ não tenho dinheiro, mas avalizo você em tudo’. Assinou as notas promissórias em branco. Foi um irmão. Um pai. Sempre estávamos juntos, porque no tempo da construção da Usina de Jaguara, eu fornecia a carne e ele verduras e a gente se encontrava lá. Fomos à festa de inauguração do clube, foi uma grande festa. A gente não era pouca porcaria, não”, recorda, fazendo a esposa, Aparecida emocionar-se: “Estive com Onobuge em novembro do ano passado, mas sempre fomos muito amigos”.

Conta Nenê que seu pai, Alaor alugava parte da chácara para colocar o gado de corte. Depois eu continuei, por muitos anos”, disse e conclui: “Onobuge gostava muito de viver, gostava da vida, dizia que viveria até os cem anos.Foi um bom, um grande amigo que a gente teve...”