Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Carnaval 2007 - Acadêmicos do Borá está fora do Carnaval


A Escola de Samba Acadêmicos do Borá não desfila no Carnaval este ano. Quem dá a notícia é a tesoureira da escola Karina Ferreira da Silva, que procurou o jornal para justificar a ausência na avenida. “Criamos a escola no início do ano passado e desfilamos para cumprir uma exigência: desfilar a primeira vez para depois fazer jus à verba. Participamos no ano passado com 120 integrantes, certos de que este ano teríamos a verba da prefeitura para organizar a escola, mas ficamos de fora”, disse.

Segundo a tesoureira, inconformada com a resposta da Prefeitura, que alegou falta de cadastro da escola, respondeu que o cadastro da escola foi o desfile feito no ano passado. “Nosso cadastro foi confirmado com o diploma de participação assinado pelo prefeito Joaquim Rosa Pinheiro, entregue em público na avenida e a promessa de que nossa escola estaria incluída no rateio das verbas destinadas às escolas de samba. E, além disso, disse mais, no ano passado quando procuramos a prefeitura, eles disseram que teríamos a verba para 2007”.

A diretoria da Acadêmicos do Borá ao saber que a escola não receberia a verba de R$ 16 mil, correu atrás do prejuízo. “Fomos à Câmara, o presidente Papinha noas orientou a buscar o recurso com o prefeito Joaquim, através de uma verba suplentar, afirmando que reuniria a Câmara para votar. Mas não deu. O prefeito disse que não tem verba, que não constávamos do orçamento e se comprometeu nos dar a verba para 2008”, disse muito contrariada, lembrando que a mesma promessa o prefeito havia feito no ano passado.

Para Karine, resta à escola pedir desculpas aos foliões que já haviam assumido o compromisso de desfilar pela escola. “Sentimos muito e pedimos desculpas. Dependíamos da verba da prefeitura para pôr a escola na avenida, assim não vamos desfilar. Aqueles integrantes que quiserem buscar outras escolas podem fazê-lo. Nós da diretoria não vamos participar do carnaval e desejamos sorte para escolas, que elas façam um bonito carnaval”, afirma.

A diretoria da Acadêmicos do Borá é composta pelo presidente Nicanor de Souza, vice-presidente Nivaldo da Silva, secretárias Teresinha da Silva Souza e Maria Lúcia da Silva e tesoureiras Karine Ferreira da Silva e Elis Ratiele Ferreira.

Acadêmicos do Borá é fruto de um sonho de João Caiana

A Acadêmicos do Borá é uma escola de samba nova na cidade, foi fundada em 2005, mas é resultado de um sonho antigo do operário braçal, João Manuel da Silva, o João Caiana, falecido há 36 anos.“Mus pais, tios, os mais velhos da família, dizem que meu avô sempre falava que quando os filhos crescessem fundaria uma escola de samba. Ele faleceu e o sonho ficou guardado. Um dia, o Nivaldo decidiu acordar o sonho e colocálo em prática e aí começamos a trabalhar a idéia, até fundar a escola no ano passado”, conta Terezinha da Silva, a filha mais velha entre os 13 filhos vivos do casal João Caiana e Maria Antônia.

Na verdade João teve mais três filhos. “Éramos 16 filhos, duas mais velhas do que eu, Adelina e Maria Isabel, já falecidas, hoje somos 13. Papai casou-se com a minha mãe, Aléxis e tiveram seis filhos. Viúvo, papai casou-se com a mamãe Antônia e vieram os outros filhos. Nessa foto estamos 11 filhos, o Gilmar tinha dois meses. A Lúcia, a Ana e a Eugênia nem eram nascidas, papai não conheceu a Eugênia, ele faleceu de repente com 43 anos e mamãe estava grávida. Eu tinha 28 anos”, lembra Terezinha.

Quem era João Caiana?

João Caiana é sacramentano, nascido nas redondezas, filho de João José da Silva, fazedor de rapadura, de cachaça e outros derivados da cana. “Meu avô tinha engenho e ele gostava de fabricar as coisas com a cana caiana, que dizia ser a melhor cana: rapadura de cana caiana, cachaça de cana caiana, garapa de cana caiana, melado de cana caiana. Aí, o pessoal passou a chamá-lo de Zé Caiana e foi pegando o nome na família, João Caiana, Antônio Caiana e chegou até à geração de hoje, Mané Caiana, Luizão Caiana, Tonico Caiana, Paulino Caiana... (Caiana – espécie de cana-de-açúcar, originária de Caiena, na Guiana Francesa: grifo nosso)
Grande parte da família reside na rua Antonio Carlos, propriedade herdada do avô Felício (pai de Aléxis, a primeira esposa de João Caiana). “Cada um foi casando e ficando por aqui, hoje é a ´vila´ dos Caianas”, diz Terezinha com orgulho e recorda que o pai era homem do trabalho. Segundo Terezinha, João Caiana ajudou a trazer a água da mina da Loca pra cidade. “Tudo braçal, na marreta, enxada e enxadão. Ele era um homem poderoso, muito amigo, não tinha vícios. A ponte antiga, do Rosário, ele ajudou a derrubar à marreta e picareta. No tempo dele era tudo muito difícil, não existiam as facilidades de hoje. Ele era um grande homem e o meu sonho é ter uma rua, alguma coisa na cidade com o nome dele, porque ele foi uma pessoa grande. Ainda vou realizar esse sonho”, diz.

E a família é grande. Se juntar toda a parentalha dá uma escola de samba da família: a Escola de Samba Caiana: 13 filhos, somem-se a eles genros e noras, mais 52 netos e bisnetos e primos e mais primos. “Dá uma escola de samba da família, com certeza. Este ano não deu, mas no ano que vem custe o que custar, vamos pôr a escola na rua. O meu pai, lá de cima, vai estar nos olhando e ele vai vibrar com essa escola”, diz Terezinha, rodeada de familiares.