Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Antagonismo sadio

A injustiça, já dizia Cícero “é cometida de duas formas: pela violência e pela fraude. Todas as duas são indignas do homem, mas a fraude é mais desprezível ”. (Leia-se governos).
A vitória de Lula é legal e deve ser respeitada, mas nem por isso deixa de ser contestável a sua legitimidade. Nem tudo que é legal é legitimo.

Como excluir a manipulação dos mais pobres diante de uma realidade de violência constante em que vivem? Com certeza o pobre não é bobo, é vítima, e vítima principalmente de gestões excludentes e discriminatórias praticadas ao longo do tempo pelos dirigentes de seu destino. O miserável tem um pensar viciado, já foi dito que sua situação de desespero e pobreza o impede de pensar a longo prazo, pois está mergulhado na luta diária contra a fome, o frio, a dor. O pobre vota naquele que lhe dá o imediato. A pobreza não permite o pensamento a longo prazo que nada mais é do que o essencial para que exista democracia.

Os resultados do processo de votação por mais perfeitos que sejam do ponto de vista técnico, serão sempre a expressão do poder de manipulação dos mais fortes, isso enquanto tivermos uma oferta de eleitores que não possuem o mínimo para viverem dignamente. E esse mínimo não se materializa apenas com a entrega de pecúnia ao desvalido, o mínimo deve ser conquistado com a oferta de oportunidades de emprego, de informação e formação profissional contribuindo para a construção sólida da família, abrangendo assim, principalmente, o respeito à dignidade do homem que se sentirá útil e moralmente capaz no seio da sociedade a que pertence.

A pesquisa que trouxe uma queda na desigualdade é por demais contestável e soa como não tão legitima, o IPEA (órgão subordinado ao Ministério do Planejamento) demonstrou que houve uma brutal sub-declaração dos rendimentos com juros. O aumento da taxa de exploração do trabalho infantil entre crianças e adolescentes de 5 a 15 anos é o maior dos últimos 15 anos de acordo com o PNDA, são crianças que estão tendo seus mais comezinhos direitos violados. Uma das finalidades do bolsa-família é retirar a criança do trabalho para que ela freqüente a escola, está aí mais uma falha que deve ser urgentemente corrigida.

É óbvio que a apartação social - e só não há vêem assim os alienados ou fechados em seus círculos de convicção - está visceralmente ligada à distribuição de renda onde por sua vez liga-se à produção que, se não justas, se não geradoras de empregos e oportunidades, vão abrindo uma enorme vala entre os mais abastados e os economicamente mais fracos, evidenciando cada vez mais a enorme distância entre as camadas sociais.

As elites e os poderosos bancos, praticando especulação, foram quem mais lucraram nesse atual governo. Para os pobres, migalhas, para os ricos, milhões. O Brasil se tornou o paraíso da especulação, empresários investem pesado, apenas nesse campo, usufruindo dos juros altos defendidos por nefastos políticos que se beneficiam com esse jogo. Essas pessoas sugam o dinheiro nacional e nada contribuem para o crescimento do país, pois aqui não estabelecem suas empresas, não geram emprego, não investem em capacitação profissional, não aquecem a economia do país.

Que esquerda é essa que tantas vezes se mostrou autoritária e antidemocrática, que o digam os atos de tentativa de amordaçamento do Ministério Público, de cerceamento da liberdade de imprensa, a quebra criminosa do sigilo bancário de um cidadão, sem falar no aparelhamento do Estado para a prática do ilícito.

Só há verdadeira nobreza de coração e verdadeira coragem nos homens que são ao mesmo tempo bem formados, sinceros, amigos da verdade; é triste constatar que muitas vezes, ao lado dessa elevação de espírito, se misturam a obstinação e o desejo desenfreado de superioridade.
Os dados podem e devem ser questionados, discutidos, onde cada pessoa dará, segundo critérios subjetivos de interpretação e dentro de uma visão racional do contexto social, o alcance que acharem que devem.

A modéstia é fonte da integridade, adorno da vida, apaziguadora de todas as paixões e medida de tudo. Aquele que se propõe a escrever deve-se ater mais a ela – todos são capazes.

Ricardo Alexandre de M. Costa - Advogado -