A passeata de professores e alunos contra a municipalização de escolas estaduais da cidade partiu da concentração feita de todas as escolas estaduais, em frente à EE Afonso Pena, e seguiu em direção ao centro, ruas Major Lima, Rio Branco, Clemente Araújo, S. Pedro, av. Benedito Valadares e concentração final na praça Getúlio Vargas.
Alguns manifestantes queriam levar a passeata até o Centro Administrativo da Prefeitura, mas o Sind-UTE não aceitou.
“Ali é um local de trabalho, é horário de expediente e o nosso objetivo não é afrontar ninguém.
O nosso movimento não é de provocação. Estamos mostrando nossa opinião à sociedade, em momento algum o nosso movimento pode ter caráter provocativo o que estamos mostrando é a nossa ´cara´ contra a municipalização do ensino na cidade.
Não somos contra às pessoas a favor da municipalização, queremos é um diálogo, que mostrem com clareza que a municipalização possa ser vantajosa, pois, enquanto isso não acontecer, iremos manifestar, mobilizar, porque a municipalização tem se mostrado prejudicial onde ocorreu”, disse o professor Carlos Alberto Cerchi, um dos diretores do sindicato.
O professor explicou ainda o caráter educativo da manifestação. “Nós estamos em aula, aula de cidadania, aula de civismo, aula de direito, previsto em Constituição, ninguém foi obrigado estar aqui, todos foram convidados”, disse. Mas na sua resposta à manifestação, o prefeito Joaquim Rosa Pinheiro disse pela Rádio Sacramento, usando como exemplo o seu próprio filho que estuda na EE Cel. José Afonso de Almeida, que ele participou da passeata obrigado.
A profa. Andréa Barbosa Santana, que estava na sala do filho do prefeito, no momento em que os professores deixaram as escolas, disse que nada disso aconteceu. “Em momento algum eu falei da obrigação de participar da passeata, aliás, o próprio aluno me disse que não participou”, afirmou a professora que, inclusive, não esteve na manifestação.
Já o diretor da escola, prof. Walmor Júlio Silva, também confirmou que no primeiro horário falou da passeata. Pediu que os professores explicassem aos alunos os motivos da manifestação, e que participassem aqueles que aderissem, do contrário permanecessem dando aula. “A gente não pode ligar muito para o que o prefeito fala, não. O Joaquim é um mentiroso contumaz, ele faz isso prá jogar a população contra os professores. Nossa reação foi clara, aberta, na rua, mostrando nossas caras, de dezenas de professores e não de ‘meia dúzia de professores que não querem ensinar’, como disse pela rádio’; a dele foi a de usar a mentira. Eu não ligo mais para o que ele fala, não”, disse o professor.
Municipalização não traz benefícios
Na praça Getúlio Vargas, o professor Carlos Alberto Cerchi explicou em alto e bom som, o que representa a municipalização. “Há uma maneira do governo do Estado passar para as prefeituras uma obrigação que é sua, de manter as escolas públicas e de boa qualidade. Esse é um direito assegurado constitucionalmente. Quando a cidade manifesta o interesse de assumir essa responsabilidade, que é do estado, é necessário que sejam estabelecidos critérios e discutidos esses critérios. Por enquanto ainda não está comprovado que a municipalização do ensino possa trazer algum benefício para a comunidade. As experiências que vemos por aí são constrangedoras em todos o sentidos. Até quem nos provem com dados concretos continuamos contra a municipalização, por isso queremos dialogar, conversar, discutir, saber os critérios. E vamos continuar mobilizados até termos uma resposta objetiva em função desse não”, disse o professor, lembrando que no atual governo Aécio, nenhuma escola foi municipalizada no Estado
“Não foi nesse governo municipalizada escola nenhuma. O governador Aécio não municipalizou nenhuma escola, por que começar com Sacramento?”, disse.
A diretora da EE Tancredo de Almeida Neves, Guatabira Maria Alves, e o vice-prefeito, Pedro Teodoro Rodrigues Rezende, também discursaram. “Estamos aguardando a posição do Sr. prefeito, que ainda não conversou conosco. Não estamos pensando só no presente, mas no que poderá acontecer no futuro”, disse Guatabira, que teve a fala complementada pelo vice-prefeito: “Esse ato é democrático, é um direito de todo cidadão. É direito poder reivindicar as suas prioridades e direitos. Quando foi feito esse pedido a Belo Horizonte a administração pública deveria agir democraticamente, manifestando o desejo da comunidade escolar e do Colegiado.
Deveria ter convocado os professores secretários, serviçais, os alunos, os pais, o sindicato para discutir democraticamente a vantagem e desvantagem de municipalizar uma escola. E todos sabem que a médio prazo há desvantagem e o estado não vai quere a escola de volta. A ditadura, o autoritarismo acabaram há muitos anos, não podemos deixá-la voltar. Não podemos aceitar a municipalização como querem fazer, ´goela abaixo´”, disse Dr. Pedro.
Após os três discursos todos retornaram às escolas, os alunos das escolas Tancredo Neves e Sinhana Borges foram levados de ônibus, contratado pelo SindUTE.
Passeata foi decisão de Assembléia
A decisão da manifestação foi tirada em assembléia geral convocada pelo SindUTE a pedido dos diretores das escolas, principalmente daquelas que poderão ser mais afetadas. Na assembléia foram tiradas várias propostas. Além da passeata, foram aprovadas as propostas de ir à tribuna da Câmara, adesivos nos veículos, esclarecimentos nas rádios sobre a opinião do sindicato, dos diretores e demais servidores e uma comissão irá a BH, numa audiência com a Secretária de Estado da Educação, Vanessa Guimarães.
A tribuna da Câmara será ocupada na segunda-feira, 24, quando falarão a diretora da EE Tancredo Neves, Guatabira Maria Alves e o professor Carlos Alberto Cerchi. A audiência com a secretária Vanessa está sendo viabilizada pelos deputado Antonio Andrade e Zé Maia. Os adesivos estão espalhados nos veículos.
Prefeito critica passeata e agride professores
Em programa na Rádio Sacramento, no dia 22, das 11h00 às 13h00, o prefeito Joaquim Rosa Pinheiro esclareceu a intenção de seu governo na municipalização. Falou do dinheiro que vem pra cidade, hoje, e virá no futuro; sobre o gasto com transporte escolar de alunos para a rede estadual; dos servidores municipais que fornece para as escolas, dentre outras várias justificativas. Alegou que o motivo da passeata foi político, que ‘pessoas’ usaram os alunos para jogar a comunidade contra o prefeito. “O que a comunidade escolar, principalmente aqueles professores que fizeram a passeata deveriam passar para os pais dos alunos é a avaliação do ensino feita na EE Tancredo Neves. A comunidade precisa saber como está o ensino naquela escola”, disse, acrescentou outras justificativas. “Não vou me ceder à pressão de meia dúzia de professores, não, temos que olhar o interesse dos pais, a qualidade do ensino que está sendo executado...” criticou.
Finalizou o prefeito criticando a categoria. “Vejam quem são as pessoas que querem tirar proveito de menores, ficam doidos pra tirar os menores da sala de aula... Fica aqui o nosso repúdio ao tipo de manifestação que foi usada. Digo aos pais, que não deixem seus filhos serem usados por meia dúzia de professores que não querem ensinar, querem mais é receber seu salário no final do mês”, afirmou.
Segundo o presidente do SindUTE, Carlos Henrique de Oliveira, nenhuma escola obrigou alunos e professores a ir a passeata. Foi feito um convite a professores e alunos, aqueles que se recusaram a participar permaneceram nas escolas dando aulas, o que foi uma minoria. E houve professores que não aderiram à passeata, mas são contra a municipalização, assim como centenas de alunos. A diretora Guatabira, fez um convite por escrito, solicitando a autorização dos pais e informando que os alunos do turno da manhã que não fossem à passeata estariam sendo dispensados mais cedo da escola.
A crítica do prefeito, inflamou os ânimos, o SindUTE e a diretora da EE Tancredo de Almeida Neves solicitaram direito de resposta à Rádio Sacramento. A diretora Guatabira informou que quanto aos resultados de aprendizagem, provará por meio de dados, oportunamente publicados neste jornal, o alto nível do rendimento dos alunos da escola. “Os alunos da rede estadual são avaliados pelo Simave e Proeb, avaliações do Estado, que não são feitas pela rede municipal, mas temos dados comparativos que mostram o rendimento dos nossos alunos e dos da escola municipal, vamos mostrar esses dados pela rádio e na imprensa escrita”, rebateu.
O que se tem em relação aos resultados das avaliações do Estado (Simave e Proeb) em nível de Superintendência é que as escolas de Sacramento têm se destacado pelo bom rendimento, o mesmo ocorrendo em nível de Estado, resultados esses que já foram publicados neste jornal, num comparativo com dados das melhores escolas da Superintendência e do Estado.