Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Morte da jovem Irânia comove a cidade de Conquista

Edição nº 1443 - 05 Dezembro 2014

Foi uma grande comoção na vizinha cidade de Conquista, onde moravam a jovem Irânia Pereira, de apenas 16 anos, filha de Arlene de Souza Pereira, 37, e Lázaro Aparecido Pereira, que morreu tragicamente vítima de acidente em Sacramento, às 2h09, na rua Antônio Carlos. Velada no Velório Municipal a família recebeu o carinho e a solidariedade dos conquistenses ao acorrer para as despedidas da jovem Irânia e ao seu sepultamento, realizado às 20h do domingo, 30, logo após as exéquias proferidas pelo pároco da cidade, Pe. Sandro Dalmolin, que prestou à família toda assistência espiritual nesse momento tão difícil para os  pais e familiares. 

 

Como tudo aconteceu 

As vítimas foram rendidas quando se aproximavam do veículo, estacionado em frente ao Empório da Cerveja, lanchonete recentemente aberta no bairro do Rosário, por dois assaltantes. Um deles, com revólver em punho, ordenou que entrassem no banco traseiro e arrancaram em alta velocidade.

Sem muito domínio, o assaltante por duas vezes deixou o veículo 'apagar' e arrancou a toda na direção do centro da cidade, sentido rua Ângelo Crema (rua da Praça de Esportes). Segundo o pai de JV, Ademir Rodrigo, conforme informações do próprio filho, por duas vezes, o autor quase perde o controle direcional do veículo, a primeira ao passar pela ponte na rua Ângelo Crema e, a segunda, ao passar pela lombada na esquina das ruas Clemente Araújo com Antônio Carlos, ao lado da farmácia S. Rafael.

Já na rua Antônio Carlos, conforme demonstra câmara de vídeo instalada no cruzamento da av. Cgo. Julião Nunes e rua Antônio Carlos, a caminhonete estava em alta velocidade (Veja a sequência de fotos do vídeo nesta página). O fato é comprovado também pelo conta-giros do motor da caminhonete, acima de 3400/pm, conforme informações de JV. “Com certeza, ele estava acima de 100 quilômetros por hora”, confirma Ademir, que é mecânico de veículos.

Pela câmara não dá para perceber se o semáforo estava ou não funcionando. Na manhã de domingo, não estava. Mas não influenciou no acidente, que aconteceu imediatamente após o cruzamento, na altura do número 824, onde o caminhão estava estacionado. 

Naquele momento, esse fato é comprovado pela câmara de vídeo e também pelo jovem JV, um veículo descia a rua em sentido contrário, e, ao tirar um pouco para a direita, sem perícia, o autor bateu violentamente com a parte direita frontal da caminhonete contra o lado esquerdo da carroceria do caminhão. 

 

De acordo com o BO, ao chegar ao local, a PM deparou  com uma calota craniana com couro cabeludo longo caído ao solo, massa cefálica, um revólver cal.38 polegadas, cano curto com cinco munições intactas com numeração raspada e um facão. Dentro da caminhonete, no banco traseiro do lado direito, o corpo de Irânia e,   no banco dianteiro, o corpo de Maicon também já sem vida. 

 

Declarações de JV à Polícia

À PM, o jovem, JVRA, relatou que estava com Irânia na avenida Benedito Valadares, quando foi abordado por dois indivíduos,  um armado de revólver de cor preta, que  apontou a arma para sua cabeça e mandou que passasse a chave da caminhonete e todos os seus pertences e ordenou que Irânia lhe passasse sua bolsa. 

Em seguida, o autor ordenou que eles entrassem no banco de trás da caminhonete, e, mantendo-os sob a mira da arma de fogo, saíram em alta velocidade, tomando sentido centro. 

Na avenida Antônio Carlos, o condutor, demonstrando falta de perícia para dirigir a caminhonete,  chocou-se na traseira do caminhão que estava parado na via. 

A perícia técnica de Araxá foi acionada,  comparecendo ao local o perito Marcelo Tomanink e a técnica de enfermagem, Joelma Rosa, que  realizaram os serviços de praxe, recolhendo a arma de fogo, o facão que se encontravam no solo e,  as massas encefálicas das vítimas. Os corpos foram transladados para o IML de Araxá. 

 

Conforme registro no BO, quando o perito Marcelo Tomanink realizava os trabalhos, a esposa do autor, Maicon Donizete dos Reis, gritou em alta voz, dizendo: “- Isto não vai ficar assim”. E que mataria o bandido, vulgo Dhé, por ter chamado o seu marido para praticar um assalto. Segundo a  testemunha, Dhé estava preso em Sacramento e saiu da cadeia recentemente. 

 

Meu filho nasceu de novo

O jovem JVRA não quis falar à imprensa, porque estava ainda muito chocado com tudo o que aconteceu. Mas seu pai, o mecânico de veículos, Ademir Rodrigo de Almeida, gentilmente recebeu o ET e narrou o drama vivido pela família após o acidente, repetindo as informações passadas pelo filho, logo após o acidente. 

“- Ele me disse que na hora ficou atordoado, mas um colega ligou e ele falou com a voz entrecortada: 'Pai, a caminhonete... A menina morreu. A menina está morta'. Só falava isso, mas antes de eu sair, um colega dele de Conquista,  chegou com ele todo ensanguentado, massa encefálica na roupa, totalmente atordoado. Demos uma água com açúcar, ele trocou de roupa  e retornamos para o local do acidente. Quando cheguei, meu Deus!!...”, narra com os olhos lacrimejantes. 

Infelizmente, a menina perdeu a vida! Não há preço que pague. Os danos do veículo não são nada, lamento profundamente e me solidarizo com a família dela. Quando vi o estado do carro, percebi que meu  filho nasceu de novo, graças a Deus. Já falei que ele terá que batizar de novo. Mexendo nas coisas dele, encontrei uma oraçãozinha do anjo da Guarda e uma estampa de Na. Sra. Aparecida. Eu não sabia que ele a carregava...”, afirma Ademir, que permaneceu no local até  a retirada dos corpos pelo IML. 

De acordo com Ademir, no depoimento, o filho contou que estavam na lanchonete e saíram até a caminhonete, que estava estacionada perto da mangueira, pra buscar a bolsa dela. “Ele contou que ao se aproximarem do veículo, percebeu que vinha vindo um homem em sua direção e, de repente, apareceu outro do lado contrário”, narra o pai, prosseguindo.

“- O homem chegou, encostou o revólver na sua barriga e pediu celular, carteira. Ao ver a chave, o menino falou que era da casa, mas ele deve ter visto o controle, disse: “Me passa a  chave. Qual é o carro?”. Isso na maior naturalidade, por isso ninguém suspeitou de nada. Ordenou que entrassem no carro, mas meu filho respondeu para levar a caminhonete e deixassem eles, mas o homem cutucou com a arma e obrigou os dois a entrarem no banco de trás. 

Eles entraram, ele tentou sair, mas não sabia dirigir, porque deixou o veículo apagar duas vezes  e saiu na maior velocidade. E foi aí  que o pessoal da lanchonete estranhou, mas não sabiam o que era...”.

Continua o relato narrando a direção que os assaltantes tomaram. “O menino contou que ele passou a ponte há mais de 60 km, seguiu pela rua da praça de Esportes e, no semáforo, virou à direita, contornou a Igreja Matriz e seguiu para a Antonio Carlos. Diz o menino que na lombada da esquina da Farmácia São Rafael, a caminhonete quase tombou. Ele é inexperiente, errava as marcha, acelerava que chegava a  cortar o giro, passou no sinal fechado. E, quando chegou na Antonio Carlos,  ele pisou. O menino disse que ele subiu ali com uma velocidade entre 110 a 120 e ele encolhido lá atrás. De repente, o menino diz que  avistou o caminhão estacionado e que vinha descendo um carro”, narrou e prosseguiu. 

“- Segundo ainda o relato de meu filho, ele percebeu que o condutor não iria dar conta de passar, e como o motorista que descia avançou, ele se encolheu ainda mais e, de repente, veio o impacto, rasgando tudo. A coluna da  caminhonete arrebentou entre o parabrisa e o retrovisor e entrou no pescoço do assaltante que estava do lado. E aí o  teto foi rasgando para trás e atingiu a cabeça da menina. A caminhonete seguiu e parou no passeio na porta do Paulinho Lanches, empurrou as mesas que estavam debaixo do toldo. Por sorte, o único cliente que estava em uma das mesas da calçada, naquele momento tinha ido ao balcão da lanchonete.”.

Segundo relato de Ademir, seu filho e Irânia passaram um sufoco durante o rápido trajeto até a colisão com o caminhão. O assaltante que morreu no banco da frente e que estava com a arma em punho,  seguiu durante todo o trajeto com a arma apontada para seu filho, que estava atrás do motorista.

“- O menino diz que pedia: 'Deixa a gente aqui, pode levar o carro, mas nada. A menina chegou a dizer que conhecia um deles, de algum lugar. Aí foi pior, porque o condutor respondeu: 'Daqui a pouco vocês não vão nos reconhecer mais'. E perguntou para o outro: 'Vai ser naquele mesmo lugar?'. E o outro respondeu: 'É'. O menino supôs que iriam para o campo de aviação”. 

 

Após a colisão, J disse que não viu quando o condutor do veículo saiu, mas uma testemunha informou que percebeu quando um homem saiu correndo da caminhonete para a rua. 


“Cadê a pessoa que fez isso, meu Deus?”

Arlene de Souza Pereira, 37, mãe da única filha, Irânia, relata que é comum os jovens de Conquista virem a Sacramento e vice-versa. “Ela se reunia com as amigas e amigos e iam para Sacramento. Ela esteve lá na inauguração da lanchonete e voltou à cidade neste final de semana. Mas sempre ia e voltava, raramente dormia em Sacramento. E sempre quando eles saiam de lá, ela me ligava avisando. E quando estava chegando, ligava pra eu abrir o portão”, conta a mãe, ainda muito emocionada, narrando como ficou sabendo do fato.

“- Naquele dia, eram 2h40, o telefone tocou, eu atendi e era um rapaz, que não disse o nome, me informando que havia acontecido um acidente, que Irânia estava no carro, e desligou. Eu chamei naquele celular e ele disse: 'Vem pra cá', mas não dava detalhes. Eu saí e fui na vizinha, mãe da J.,  que havia ido pra Sacramento também. Nisso, alguém ligou perguntando pela J. e disse que havia acontecido um acidente. E nisso ouvimos gritos e a J. pegou o telefone e disse: “Irânia está morta” – relata a mãe em prantos. “Mas eu não acreditava, até eu chegar,  eu pensava que tivesse sido apenas um acidente...”. 

Para Arlene, a distância entre Sacramento e Conquista nunca foi tão longa. “Nós saímos de carro e nunca que chegava... e aí, lá estava ela... Cadê a pessoa que fez isso, meu Deus? Era uma menina, alegre, que gostava de festas como todo jovem...”.

Irânia era estudante do Ensino Médio na Escola Estadual Lindolfo Bernardes. Em função dos fatos o corridos e pela amizade que mantinha na escola, a comoção no velório foi muito grande.  “Conquista inteira veio aqui, os jovens fizeram homenagens, cantaram na despedida a música “Gostava tanto de você”, (Tim Maia) e a foto dela, linda sobre o caixão.

Irânia era rodeada de amigos... E por causa de um carro minha filha está morta? Por que não levaram só o carro, meu Deus? Espero que haja justiça...”. 

Na Delegacia, o ET conversou com  o pai de Irânia, Lázaro Aparecido Pereira, que recebeu a notícia  em Uberaba, onde estava,  com a mãe hospitalizada. “Arlene me ligou pouco depois das duas horas da manhã e eu pedi pra ela vir pra cá, porque eu pensei que um acidente na cidade não seria dessa gravidade. Às 3h da manhã,  ela voltou a ligar falando da morte da menina, nossa única filha. Meu sobrinho me trouxe de carro e ao chegar aqui, me deparei com a cena, os colegas dela todos ali no maior desespero”, contou. 

Segundo Lázaro, é rotina dos jovens de Conquista virem para Sacramento nos finais de semana ... “Fui ao IML com o corpo, mas eles falaram que não teria outro jeito a não ser urna lacrada e mandaram sepultar no máximo até às 20h”, relata  mais e completa: “Graças a Deus tivemos o apoio de toda a cidade, do padre Sandro Dalmolim, que nos reconfortou, acompanhou o velório e fez as orações. Agora fica a saudade. É muito doloroso, mas muito mais para a Arlene, porque eram só  as duas em casa...”

 

O sentimento dos que viram a cena

O ET esteve no local do acidente pela manhã e conversou com alguns moradores, que ainda consternados, se confessaram muito assustados com o que viram.

Marina Melo relata que esteve na mesma lanchonete onde JVRA e Irânia estiveram. “Eu cheguei em casa e cerca de dez minutos depois ouvi um barulho e um grito. Como ouvi que o barulho era no caminhão do meu avô, a primeira coisa que fiz foi ligar para a polícia: “Bateram no caminhão do meu avô e chamem a ambulância”. Ao sair de casa para ver o que havia acontecido, como não vi o outro veículo, pensei: 'Bateram e foram embora'. Mas vi que foi muito sério, porque vi a porta  embaixo toda estraçalhada, na hora pensei que fosse moto, e que tivessem  fugido” – conta. 

Prossegue, informando que uma testemunha disse que o veículo que bateu no caminhão estava parado em frente ao Paulinho Lanche, próximo à esquina. “Ele me disse, 'não vá lá, porque está muito feio'. E de fato,  havia massa encefálica no caminho, uma faca e um revólver. Parte do cérebro da jovem estava caído no meio da rua... Foi horrível, eu não quis ir lá perto”. Fiquei muito chocada e com pena”, contou, consternada.

 

 Maria Brigagão, moradora que mora entre o local do acidente e onde a caminhonete foi parar, também ficou traumatizada com o que viu. “Cheguei ao local pouco depois, o barulho foi muito forte e fui ver o que aconteceu”, engasgando ao falar pela lembrança da cena. “Vi uma cena  muito, muito triste mesmo, pedaços de corpo, nunca imaginei ver uma coisa dessas. Muitos jovens, muito sofrimento, estavam desesperados, uma tristeza...”