Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Tristeza e dor na morte de Luiz Antônio, o Monkey

Edição nº 1586 - 01 de Setembro de 2017

Luiz Antonio Borges, mais conhecido por Monkey, era uma pessoa maravilhosa. Apesar de sua solidão existencial e tratamento quase que contínuo em clínicas especializadas,  devido a uma esquizofrenia agravada com uma dependência química, era uma pessoa alegre, festiva e amigo de todo mundo... Infelizmente, Monkey foi encontrado morto em sua residência, na avenida Domingos Magnabosco, na manhã  do dia 25 de agosto. Luiz Antônio Borges, filho adotivo de Edmo Ferreira Borges e de sua primeira esposa, Josefina Almeida Ferreira, tinha 45 anos. 

Ainda muito sentido com a morte prematura do filho, Edmo falou ao ET sobre suas doces e tristes lembranças com o filho, que adotou aos quatro anos de idade. “Pelo que soubemos naquela época, 1976, do seu nascimento até chegar em nosso lar, Luiz Antônio teve uma vida muito triste. Luiz vivia preso com a avó. Ao sabermos que iriam colocá-lo para adoção, condoídos com aquela triste situação, fomos atrás dos pais numa fazenda na região de Ribeirão Preto e conseguimos sua adoção. Formalizamos toda a documentação, registramos tudo e ele veio morar conosco. A partir dessa data ele teve uma infância feliz, muito carinho, atenção. Morávamos em Santo André e lá ele estudou nos melhores colégios, até concluir o ensino primário”, diz, informando que nessa época mudaram-se para Sacramento.  

“- Quando Luiz completou 12 anos, nos mudamos para Sacramento. Eu me lembro que ele foi estudar na Escola Coronel e depois foi para a Escola Maria Crema, mas não concluiu o segundo grau. Nessa época, ele começou a apresentar os primeiros sintomas da esquizofrenia e nós começamos a andar com ele em busca de tratamento. Queríamos o seu bem, ele era muito amado, querido, era nosso filho”, revela Edmo, sempre muito emocionado.

 

Muitas internações...

Por conta de sua doença, que o fazia, às vezes, ter alguns surtos, preferindo nesses momentos isolar-se, os pais construíram para ela, contíguo à casa onde moravam, um apartamento, mas não conseguiram controlar suas fugas.  

“- Especialmente, à noite, altas horas, ele pulava a janela, saía, e quando descobrimos,  ele estava envolvido com drogas. O apoio veio imediato, primeiro muitos conselhos, apoio, vigiando suas saídas e saindo atrás para buscá-lo”, conta o pai, informando que não vendo resultado, procurou recurso junto a clínicas especializadas para pessoas com dependência química. 

“- Não podíamos ficar com ele naquele estado, era um jovem já, então começamos a interná-lo. Nessa região nossa, de Minas e São Paulo, ele foi internado em quase todas as instituições, muitas delas particulares. A mais recente, foi a Clínica Montreal, em Uberaba, onde ele ficou um ano e sete meses. Ele voltou para mim no começo do mês de julho. Ele estava, aparentemente, muito bem, dizendo que nunca mais usaria drogas nem bebida alcoólica, mas isso não aconteceu, infelizmente”. 

Lembra Edmo que na primeira semana teve notícias de que o filho estava bebendo. “E como nós sabemos, os vendedores de droga não dão trégua, já começaram a aparecer em sua casa. Infelizmente, o tráfico está muito grande em Sacramento. Fui conversar com ele, percebi que ele estava bem lúcido... Ele me disse: 'Não, pai, eu não usei e não vou usar nunca mais'. Como ele estava lúcido, me tranquilizei”. 

 

A preocupação de pai e a dor da perda

Edmo explica que naquela semana, na segunda-feira, dia 21, Luiz teria reclamado de uma dor no peito, conforme se queixou para o primo Beguá, que mora ao lado. “Meu sobrinho me contou o ocorrido e o encaminhou para fazer exames, porém nesse meio tempo ocorreu outra questão que me atrapalhou estar com ele. A mulher do meu caseiro enfartou, eles vieram para a cidade e eu tive que ficar tomando conta do rancho, distante da cidade”,  explica. 

No dia seguinte 22, Edmo retorna de manhã à cidade e vai procurar o filho em sua casa. Mas Monkey não atendeu. “Como fiquei sabendo que ele havia saído de casa em direção ao centro da cidade, fiquei tranquilo, ainda mais quando meu sobrinho me disse que ele estava bem, mas que teria que fazer um retorno ao médico”. 

Prosseguindo, afirma o pai que retorna à casa do filho na manhã seguinte, mas também não o encontra. Tenta também pelo celular, também sem retorno. Ainda confiante de que estava bem, retornou ao rancho e lá permaneceu até sexta-feira, último dia 25, nos seus afazeres, porém confiante de que o filho estivesse bem. 

Naquela sexta-feira, logo que chega à cidade, de manhazinha, procura pelo filho em sua casa. Lembra Edmo que, nas sextas-feiras, especialmente, ele encontrava sempre com o filho para dar-lhe uma 'mesada'. “Todo final de semana eu lhe dava R$ 100,00 para comprar as coisinhas dele. E naquela sexta  não foi diferente. Eu bati no portão, chamei, liguei no celular e nada. Aí comecei a ficar preocupado. Muito preocupado, pedi um rapaz pra pular o muro e quando ele voltou, me deu a triste notícia: 'Seu Edmo, deve estar morto. Está um mau cheiro forte e tem muita mosca lá'. Aí foi tomar as providências de praxe. Fui à PM, chamei um chaveiro e quando eu entrei... Uma cena muito triste. Uma imagem que não me sai da cabeça...”, relata em lágrimas. 

Não houve velório. Dado o estado do corpo, a perícia foi dispensada e o médico Pedro Teodoro Rodrigues de Resende, médico de Luiz e amigo particular de Edmo, assinou o óbito. “A suspeita é de que ele teve um infarto, devido a dor que sentiu...”, constata Edmo, lamentando não ter sabido o resultado dos exames ou se os tinha feito.   

“Ele sentiu a dor no dia 21 e não consegui falar com ele depois desse dia, embora tivesse tentado. Só o vi novamente no dia 25...”, conta com tristeza, destacando que tinha muito contato com o filho, embora morassem em casas separadas. “Eu não descuidava, estava sempre   buscando contato, saber se estava tudo bem. Esse é o dever de pai, por isso esse fato é para mim muito chocante, muito triste. É um sentimento de dor, de perda muito grande”, lamenta..

 

Luiz era uma pessoa querida e tinha um coração maior que ele mesmo...

Luiz Antonio, apesar de sua doença era uma pessoa boa, “legal”, como definem muitos amigos. Bom de papo, educado. E o pai enfatiza: “Luiz só não era bom pra ele mesmo. Doente, infelizmente, entrou na bebida e outras drogas e aí não teve mais jeito. Para mim,  era doído interná-lo, mas ele surtava, saia correndo na rua, pulava na frente de carros, então não restava outra solução”.

 Edmo destaca ainda o profissionalismo e a inteligência do filho. “Luiz trabalhou comigo muitos anos, revelando-se um excelente profissional, tudo que ele pegava fazia. Foi sempre um moço inteligente, dotado de muito conhecimento, lia muito. Ele fez muitos trabalhos em pedras na casa dele. Escreveu um livro, que chegou a pensar em publicar, mas nunca o fez. Li o livro e vi que era de uma profundidade muito grande... Gostava de filosofia...  Enfim, tinha tudo para ser feliz. Devido a sua doença, aposentou-se por invalidez e ficou em casa. Logo que me mudei, a casa ficou toda para ele”, conta, recordando também que Luiz foi casado. 

“- Luiz foi casado com uma menina maravilhosa, a Lucilene, de Barreiras, na Bahia. Nós fomos todos ao casamento dele. A menina veio morar com ele em Sacramento. Dei uma casa para eles e viveram um tempo de felicidade até que ele retornou às drogas. Ela não aguentou e separaram”, conta mais. 

Recorda o pai que foi um momento feliz de sua vida, pois Luiz trabalhava com ele na Marmoraria, um negócio que ele, com certeza, herdaria. “Na época que ele trabalhava comigo, o pensamento que eu tinha, por ser ele o único filho, era que ele tomasse conta de tudo, para que quando eu chegasse na idade em que estou hoje, aos 73 anos, pudesse ficar mais tranquilo, mas o destino não quis que fosse assim. E é a fé que tenho em Deus que me dá hoje forças para continuar lutando com a vida. Foi uma perda terrível, terrível, porque ele foi um filho muito querido, bondoso, amoroso, educado”.

De acordo com Edmo, Luiz não tinha apego a coisas materiais, por isso doou tudo o que lhe pertencia. “Meu filho era um menino completamente desapegado pelas coisas materiais, tudo o que ele tinha era de todos... Sem nenhuma vaidade por bens. Diante disso, pensando que ele ficaria muito feliz com essa minha atitude, doei todos os seus pertences. Tudo o que tinha em sua casa, eletrodomésticos, móveis, roupas, peças novinhas, nunca usadas. Tudo o que era dele foi doado de coração. Ele deve estar feliz por eu ter feito isso, porque ele não era apegado em bens. Era uma pessoa de um desprendimento muito grande, um coração muito grande...”.

Como diz José Saramago, “os filhos são seres emprestados para um curso intensivo de amor ao próximo, de vida e de coragem”, assim, com sua dor, que só o tempo vai um pouco amenizar, Edmo e a esposa Madalena, continuam a vida, conforme finaliza Edmo: “Agora é continuar a ter fé em Deus, que o emprestou para enriquecer a nossa vida. E como ele a enriqueceu. Ficam as boas lembranças, o vazio e a saudade...”.