Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Morre em São Paulo, Ruth Guimarães, fundadora do carnaval de Sacramento

Edição n° 1281 - 28 Outubro 2011

 

A sacramentana Ruth Barbosa Guimarães, fundadora do carnaval de rua de Sacramento, morreu em são Paulo  no dia 17 de outubro, aos 90 anos. Ruth deixa o filho Paulo Roberto Ferreira e o neto Pedro Henrique Clementino Ferreira e um grande legado para Sacramento: o Carnaval de rua. 

Ruth nasceu em Sacramento em 16/12/1910. Era a segunda  dos 11 filhos do casal  João Pereira Guimarães e Ana Barbosa Guimarães e cresceu com os irmãos: Rosária, Agostinho, Messias Conceição, Azor, Maria da Glória, Antônio, Aleixo, Juanita, Jacy e Benedita, 

Em 1930, depois de trabalhar na casa dos pais de Eurípedes Barsanulfo e nas casas de algumas senhoras da cidade, e depois de ser a pioneira na formação dos primeiros cordões de carnaval da cidade, com apenas 20 anos, Ruth foi embora de Sacramento. Morou primeiro na Usina Mendonça, mas logo em seguida rumou para a cidade de São Paulo, onde se casou e teve o filho único, Paulo Roberto Ferreira, que lhe deu o neto  Pedro Henrique. Em São Paulo Ruth viveu a maior parte de sua vida. E a cidade de que tanto gostava abrigará para sempre seus  restos mortais. 

Além de conterrânea de Carolina Maria de Jesus, que  foi sua amigas em São Paulo, e nos deixou os seus escritos, Ruth deixou o carnaval, que realizava juntamente com seus pais, irmãos, familiares e amigos: os encontros dos 'cordões' de carnaval, ensaiados sob  uma imensa mangueira. Para fazer a festa, Ruth percorria o comercio local arrecadando material para enfeitar os blocos, que desfilavam no domingo de Carnaval pela rua da Estação.

Ruth deixou a cidade, mas seu legado ficou nas mãos da irmã, Messias da Conceição Barbosa, que continuou o seu trabalho colocando os blocos de carnaval para desfilar pelas ruas da cidade. A tradição é mantida até os dias atuais com as escolas de samba, uma delas,  a verde e branco XIII de Maio, fundada  pelos participantes dos blocos da Conceição, há mais de 50 anos. 

Ruth esteve em Sacramento pela última vez em outubro de 2008, acompanhada das sobrinhas Eloíse e Dalcy. Na oportunidade, visitou amigos como a Aparecida do Tio Adolfo, Heigorina Cunha, onde participou do Culto das 9h00. Aproveitou também  para  visitou as senhoras  de algumas  casas onde trabalhou quando mocinha. 

 

 

Azor fala sobre a irmã Ruth

 

 

Túlio Marcos Anselmo da Costa, co-autor do livro, 'Sancas e marimbas: A saga do terreirão', registra também um depoimento colhido com o saudoso Azor Pereira Guimarães em 2007, irmão de Ruth Barbosa Guimarães.

Na entrevista dada a Túlio, Azor lembrou assim a irmã: 

“- Eu tinha na época oito anos, hoje estou com 86. Tudo começou com a Ruth,  minha irmã,  não sei precisar a data. Os ensaios eram realizados num terreiro limpo por minha mãe na rua da Estação. Um dia meu pai reuniu a família, minha mãe, a Ruth, a Lili, a Conceição e eu e falou: “Vamos fazer um bloco”.

A gente se reunia aos sábados e meu pai cantava uma machinha assim: “Arrasta a sandália morena /   Arrasta a sandália morena /   Arrasta a sandália morena /   Arrasta a sandália no terreiro /   Arrasta a sandália porque custou meu dinheiro /   Arrasta a sandália aí todo dia /   Arrasta a sandália aí porque busquei  na Bahia”. Ouvíamos as músicas no rádio para aprender a cantar e outras vezes o Sr. Lamartine Leite, que tinha uma banca de revista na cidade, trazia os folhetos de São Paulo. 

A Ruth sempre se fantasiou  de baiana. Ela carregava um bastão todo enfeitado na mão e os foliões que não cantavam enquanto dançavam, ela acertava o bastão neles. As pessoas que não tinham dinheiro, a Ruth dava as fantasias, mas tinha que ser devolvida depois, para que fosse usada nos anos seguintes. Ela pedia doação no comércio local para poder confeccionar as fantasias. 

O desfile passava pelas casas das pessoas, em geral as mais influentes da cidade, como Dr. Juca, Ferrúcio Bonatti, etc. Naquele tempo as coisas eram muito rígidas e as famílias só deixavam os filhos desfilarem na responsabilidade da Ruth.

O Padre Saul nunca tinha ido ver o carnaval. Quando viu pela primeira vez passou a tomar gosto, porque viu que era organizado e não havia bêbados. Depois a Ruth foi embora pra São Paulo e a Conceição passou a organizar o carnaval. Depois que a Conceição morreu ficou três anos sem acontecer os desfiles de carnaval.” 

(Túlio Marcos Anselmo da Costa:. ( Pesquisador da Cultura Negra Sacramentana e  Co-autor do Livro Sancas e marinbas: A saga do terreirão)