Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Roberto Crema lança livro: Poder do Encontro Origem do cuidado

Edição nº 1567 - 21 de Abril de 2017

O renomado psicólogo e antropólogo sacramentano, Roberto Crema, esteve em Sacramento no último final de semana para lançar mais uma de suas obras, “O poder do Encontro:   Origem do Cuidado', que fala “da importância de integrar e conectar visões, conhecimentos, sabedorias para o desenvolvimento de um estado que o autor denomina como 'consciência da inteireza'”.

O 'encontro' com seus conterrâneos aconteceu no sábado de Aleluia 15, na Casa da Cultura Sérgio Pacheco, abrilhantado pela Orquestra de Viola. Ao lado da esposa, Mércia, Roberto foi saudado pelo subsecretário de Cultura, Prof. Carlos Alberto Cerchi.  

“- Aqui estamos para, festivamente, recebermos um sacramentano que promove a sua terra com o que há de mais sublime: a cultura. Como reitor da Universidade Internacional da Paz, percorre o país e além como escritor e palestrante. Esteve na ribanceira do Tâmisa, talvez nas barrancas do Yang-Tsé-kiang ou do delta do Nilo. Certamente bebeu da água do São Francisco e verteu suor às margens do rio Amazonas. Na sua universalidade de corpo e de espírito, Roberto Crema retorna `a ribanceira do Borá, que não é nenhum dos rios portentosos citados, mas é significativo, quanto o rio Jordão do batismo do Cristo. Este Borá da Água Emendada é nosso legado de antepassados, onde os Souza lavraram a terra, abrigando os imigrantes italianos que aqui chegaram pelos trilhos da Companhia Mogiana. Certamente, os Crema estão identificados com a lavoura de café nas fazendas dessa mesopotâmia entre os ribeirões Rifaina e Borá, que fazem Sacramento a histórica Jerusalém pela sua presença na história da humanidade”, disse Berto Cerchi, convidando o autor para a palestra.

 

Veja a seguir, alguns excertos da palestra.

“Nós nos transformamos no encontro”

O filho de Lelé e Elza agradeceu a acolhida e viveu a emoção inicial da brilhante palestra evocando imagens de familiares e amigos. “São mais de 40 anos de trilhas e, estar falando com vocês, diante de irmãos, cunhados, sobrinhos, amigos de infância, colegas d'Os Corujas, conterrâneos, haja coração! Não há palavras. Talvez um cântico. E cantou Mercedes Sosa: “Gracias a la vida que me ha dado tanto”. Uma palavra de gratidão”, agradeceu, e iniciou a palestra, mostrando a importância de integrar e conectar visões, conhecimentos, sabedorias para o desenvolvimento da 'consciência da inteireza'.

 

“De fato o encontro é vasto 

Eu nasci como sétimo de uma família de dez e tive que me tornar um psicoterapeuta de grupo. E isso eu sei, lá no fundo do meu coração isso aprendi, ninguém transforma ninguém e ninguém se transforma sozinho. Nós nos transformamos no encontro, aludindo a Paulo Freire, um dos educadores que destaca na palestra: “Ninguém educa ninguém...” E, o que é o encontro? – pergunta, para discorrer em mais de uma hora sobre “um mistério vastíssimo”, e encantando o público presente que o aplaudiu de pé ao encerrar sua história, onde mostrou que “nós somos concebidos no encontro, nascemos no encontro, vivemos, existimos no encontro e partimos para o encontro, na passagem que chamamos de morte”. 

 

“Tríade do desencontro

“Num momento em que vivenciamos uma tríade do desencontro – talvez nunca na História da Humanidade conhecida, tenhamos vivenciado uma crise global como esta. É crucial, mas é também uma oportunidade que essa crise possa ser resumida como a crise do desencontro. Do desencontro consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com o mistério que convocado ou não,  sempre está presente. Ao longo de 30 anos de UniPaz, tenho sido um operário desde a Pré-história da terceira Universidade Internacional da Paz ao lado das Nações Unidas, na Costa Rica. Há 30 anos me sinto feliz por ser um voluntário da paz”, enfatiza.

 

Brasília do amor e do escândalo

Falando de Brasília onde vive há 47 anos, destaca, “gosto de dizer que há duas Brasílias. Há uma Brasília dos escândalos, que conhecemos e a Brasília do amor ao poder. Isso não conta, é a Brasília do desencontro. Mas a outra Brasília é a do Amor, a que foi sonhada por Dom Bosco, a que nos convocou e, creio que vivenciamos  um momento, não apenas no  Brasil, mas no planeta, de um desmoronamento  de uma certa civilização insustentável. Mas isso também não é uma má notícia. Aquilo que as pessoas consideram a morte da lagarta é o nascimento da borboleta. E, o que desarma as bombas na Síria, os escândalos no Senado e na Câmara, nas favelas, nos Estados Unidos, enfim, todo esse momento triste que vivenciamos faz muito barulho e o que nasce, nasce silenciosamente. Um jardim floresce suavemente, uma criança desperta docemente, uma lagarta se desprende da crisálida maviosamente. Sem barulho e, nesse momento, é muito importante que para aquilo que está desabando. A UniPaz surgiu com esse clamor,  é o clamor que nos convoca ao encontro”.

 

O dia da ressurreição

A data mais importante do calendário cristão foi também lembrada pelo autor. “Estamos vivenciando um sábado santo. Onde vivenciamos o sacro ofício, a morte do inocente. Anteontem, quinta-feira, foi o dia da Vigília, para que possamos atravessar essa tragédia que aconteceu há mais de dois mil anos, mas que está acontecendo agora dentro e fora de nós. O nosso melhor sendo assassinado pelo pior. Hoje, é o sábado do túmulo vazio, um dia muito importante do ponto de vista simbólico, porque as provações, as crises, elas não são ruins, elas induzem ao vazio. Isso é o que nos lembra o sacro oficio. Mas é preciso atravessar o luto das nossas ilusões, a tumba vazia, porque quando a nossa mente se esvazia, a nossa taça transborda e pode nos levar para o Dominus Dei, o dia da ressurreição, o dia do triunfo e que conclama que o amor é mais forte que a morte...” 

 

Conceitos fundamentais

Roberto continuou desfiando sua história sobre conceitos fundamentais desenvolvidos na sua caminhada de encontros, que situa nos últimos 30 anos. E fala sobre a Visão Holística (visão global e ação local. Se não temos uma visão global, a ação local não tem um sentido), a Paz (não é algo que possamos buscar em nós, paz é consequência natural de lograrmos minimamente uma inteireza. O oposto de paz é estagnação, se no nosso corpo, na nossa consciência estivermos estagnados aí teremos perdido a paz e a saúde), a Transdisciplinaridade (trata-se do encontro da ciência  com a consciência, o conhecimento e o amor), a Transcomunicação (somos frutos de uma árvore, que está repleta do invisível, por isso não basta a comunicação), a Normose (é a doença terrível da mediocridade; se não compreendemos essa doença, jamais saberemos o que é a visão holística, o encontro, a paz, a transdisciplinaridade, a transcomunicação...).

 

Convite ao encontro

Lembrando 'encontros' que teve pessoal ou através de obras com educadores, filósofos, cientistas, enfim grandes mestres como Pierre Weil, Jacob Levy  Moreno, Paulo Freire, Carl Rogers, Eric Berne, Frederick Perls, Rolando Toro, Basarab Nicolescu, Edgar Morin, Eurípedes Barsanulfo, Carl Gustav  Jung...

Enfocando ainda a importância da música, da dança, das artes em geral, da natureza,  da comunicação, da convivência na formação do ser humano, mas tudo isso em comunhão com o outro, Roberto faz um convite final:  “Eu os convoco para o encontro e termino afirmando que ninguém ensina ninguém amar; ninguém aprende amar sozinho. Nós aprendemos amar no encontro. É por isso que este livro não terminou, cada um de nós vai precisar escrevê-lo”.