Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A emoção foi grande ao retornar ao Seminário depois de 34 anos...

Edição nº 1565 - 07 de Abril de 2017

O missionário rededentorista Pe. Vilmar Correia que estudou no Seminário do Santíssimo Redentor de 1982 a 1984, voltou a Sacramento depois de 34 anos para rever a terra que tão bem o acolheu nos tempos de seminário. “Conheci muitos padres redentoristas através da rádio Aparecida, entre eles, Pe. Vitor de Almeida, e, quando fui ingressar no seminário, me orientaram a ir para a Bahia, estado mais próximo de casa.  O Seminário Menor foi em Sacramento, posso dizer que aqui foi minha infância na congregação e a infância marca muito... Por isso Sacramento sempre me ficou como marco referencial na minha história vocacional, na minha formação”.

Os estudos em Sacramento

De acordo com Pe. Vilmar, o diretor do Seminário naquela época era Pe. Elias Guimarães; Pe. Luiz Carrilho Cruz, o pároco, auxiliado pelos padres Ferrari e Benedito, ambos falecidos. “Sacramento marcou muito minha vida e depois de 34 anos a gente retorna e como as coisas mudaram! Estive no seminário, hoje Centro de Assistencial Social Pe. Antônio Borges, onde as irmãs estão com um trabalho muito bonito. E que bom  ver que a estrutura física do seminário permanece”.

 Lembrando dos colegas seminaristas da época, Pe. Vilmar enumera poucos: Vinicius Ponciano, Majella, Magnaldo e Gelson Carvalho Ramos, que hoje é pastor da Igreja Batista na Bahia. “É muita gente pra lembrar e nem todos se tornaram sacerdotes. Éramos  uma turma muito grande, quase quarenta, e fazíamos os estudos regulares na Escola Coronel e a formação no seminário. Muitos deixaram o seminário, mas a espiritualidade redentorista sempre me chamou muito a atenção, o jeito de ser redentorista que sempre me marcou e me marca”. 

 

Das missões para o Santuário do Senhor Bom Jesus da Lapa

Tão logo foi ordenado sacerdote pela Vice-Província  da Bahia, padre Vilmar passou a integrar a equipe de  Missões Populares. Finda essa missão,  passou a trabalhar na formação de seminaristas de Bom Jesus, por quatro anos, além de dirigir a rádio local e  ajudar  nas paróquias da Lapa. “Lá não dá para um padre  ter uma única função. São poucos padres para uma região muito extensa,  então todo mundo faz de tudo um pouco”, explica.

  Quatro anos depois, Vilmar deixou a formação e foi  enviado pela Congregação para estudos na Itália, onde se especializou na área de Missiologia (Teologia de Missões). Retornando ao Brasil, foi para o Centro Missionário de Salvador, até ser transferido para o sertão baiano, para o Santuário do Senhor Bom Jesus da Lapa (796 Km distante de Salvador). Além do Santuário, padre Vilmar trabalha na Rádio Bom Jesus AM, emissora de 27 kw de potência, que segundo ele, ajuda na evangelização e, sobretudo, na prestação de serviços.

“- Muitos baianos saem para outras regiões,  São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e a rádio é a ponte entre as famílias, porque eles  ligam pra a rádio dando notícias e a rádio vai retransmitindo os recados. Rádio é o meio de comunicação muito importante lá, porque é muito vasto sertão. Para se ter ideia, na diocese de Bom Jesus, temos paróquias que ficam a 250 km da sede do município. Tudo muito longe, estradas péssimas. Não tem internet, nem celular, exceto na cidade que tem cerca de 75 mil habitantes. Saiu  dali, o  único acesso a informações  é através o rádio”, explica, destacando que a rádio pode ser acessada através de um aplicativo na internet.

 Não bastasse a falta de comunicação, há ainda as questões climáticas. “Ali, o jeito de ser redentorista aflora ainda mais, porque o   sertão é uma realidade muito dura, bastante diferente do Sudeste. Muita seca, temperaturas muito altas e baixa umidade, terrível de aguentar para quem não está acostumado. Mas é um lugar de um povo muito bom,  embora teimoso como  o mandacaru do sertão, sempre firmes ali e  na fé, na luta, na peleja, porque é uma região pobre, que além da preocupação com a seca, vive a preocupação com a situação nacional, a questão política, ética e moral, que a gente não sabe a que ponto vai chegar”, 

Na rádio, padre Vilmar faz programa de evangelização no sábado às 12h e de segunda a sexta-feira, às 12h, noticiário.  Além do trabalho no santuário e na rádio, Pe. Vilmar ajuda nas paróquias da diocese de Bom Jesus. “A diocese tem 15 paróquias, mas nem todas têm padres, as comunidades são assistidas por religiosos e leigos. Para celebrar e ministrar os sacramentos a gente vai, o bispo vai, enfim, quem pode vai e assim vamos vivendo. É muito serviço para poucos padres”. 

 

Descrevendo o Santuário...

O Santuário do Senhor Bom Jesus da Lapa, encravado às margens do rio São Francisco,  de acordo  com  Pe. Vilmar, é a única igreja no mundo dentro de uma gruta. “Um lugar fantástico, maravilhoso, que fica no único morro naquela região, que é só planície. Um morro imenso, na margem direita do rio, e dentro dele está o santuário, todo de pedra, calcário, que fica na gruta onde cabem cerca de 5  mil pessoas, além de uma capela menor com capacidade para 2 mil pessoas”. 

De acordo com Pe. Vilmar, anualmente cerca de dois milhões de pessoas, visitam o  Santuário, nas festas principais: a de Bom Jesus dos Navegantes, no final de janeiro; no primeiro final de semana de julho,  a Romaria da Terra e das Águas,  a mais antiga  do Brasil; 6 de agosto, a Festa do Senhor Bom Jesus;  15 de setembro, Festa de Nossa Senhora das Dores ou Nossa Senhora da Soledade; no dia 12 de outubro, a festa de Nossa Senhora Aparecida e, em dezembro, a festa de Santa Luzia. 

 

A volta a Sacramento depois de 34 anos...

‘‘É muita emoção. A emoção é muito grande... Eu me lembro da primeira vez que cheguei a Sacramento, bem cedinho. Chegamos eu e Delci da Silva Duarte, que aliás sumiu. Deixou a congregação e nunca mais tive notícias.  Eu o encontrei em Belo Horizonte e viajamos juntos até Sacramento. Hoje, curiosamente, vindo de São Paulo, cheguei de madrugadinha à cidade, como naquele longínquo 1982... 

Ao chegar no Seminário, subir aquela rampa, apesar das mudança, a emoção foi a mesma, porque voltar ao tempo de criança sempre marca muito e vivi esse tempo aqui e o Seminário marcou muito, épois ramos  todos muito amigos. Até hoje rezo pelo nosso formador, padre Elias Guimarães, que ajudou a gente definir o que queria. E também pelo padre Ferrari e o padre Benedito, com toda aquela simplicidade dele, nos  ensinava muito”. 

Pessoas da cidade, Pe. Vilmar conhece poucas e  justifica: “A gente era muito focado nos estudos, na formação. Era do seminário para a escola, da escola para o seminário, mas me lembro bem dos professores como o Walmor com as aulas de teatro, que a gente não entendia pra quê, mas hoje sabemos e percebo o quanto foram úteis. Até o microfone eu aprendi a usar, a dicção, a comunicação. 

E lembro com carinho das peças, “Morte e Vida Severina”, “Cristificação do Universo', de Roberto Malvezzi, que encontrei no ano passado apalestra em Juazeiro. Lembro muito da tia Oralda. Lamentei muito a morte do tio Pedro, que cuidava do seminário como se fosse sua casa. Cedinho já estava lá e saia no escuro... 

Acho que não vou  ter mais tempo o resto da vida para agradecer a Deus o tempo que passei aqui, que foi uma benção de Deus na minha vida e na minha caminhada vocacional”.