A Fazenda Boa Sorte, sede da tradicional Cachaça Batista, de propriedade de Marco Antonio Afonso da Motta, inaugura, em breve, o que Marco Antônio chama de “nossa Capela Cistina estilizada'. A obra está sendo executada pelo artista Marco Vinícius Alves de Jesus (Índio), paulistano, residente em Araxá, desde 1993, que há quatro meses reside na fazenda, trabalhando na Capela que tem como patrono, São José, santo da devoção de Marco Antonio e do sogro, José Batista de Oliveira, falecido em 2012, aos 98 anos.
“- Na verdade, a sugestão da capela foi do meu filho, Marco Elísio, em homenagem ao avô, que se chamava José e por ser o santo da minha devoção. Na hora acatei a ideia, construímos, inauguramos, mas sempre pensei em fazer alguma coisa a mais e aí está”, relata.
Muito feliz com a iniciativa, Marco Antônio informa ainda que a capela não ficará ociosa. “Além de um templo sempre aberto às orações e visitações, mensalmente, com autorização do bispo de nossa arquidiocese, Dom Paulo Peixoto, será celebrada uma missa pelo pároco de Rifaina, comunidade bem próxima aqui da fazenda. Estamos muito felizes. Na oportunidade, divulgaremos as datas das celebrações para conhecimento de todos”, disse.
De acordo com o artista Índio, a obra está sendo executada com madeira prensada MDF), roxinha, guajará, carvalho, PCV, etc. E mostra o que já foi feito: os corrimões da escada de entrada todos em ferro e madeira, o presbitério, ambão, mesa da celebração, pia batismal, sacrário, o Cristo com a coroa de 72 espinhos, segundo ele, como teria sido a coroa usada por Jesus e, agora, trabalha nos oratórios.
“- Aqui havia oito imagens e cada um delas terá o seu oratório. Na lateral esquerda de quem entra teremos a via crucis e, acima da porta, a Santa Ceia. Todas as peças são feitas aqui, desde os afrescos até o Cristo Crucificado”, explica, garantindo a durabilidade do trabalho.
“- Para evitar a umidade, Marco Antônio tomou o cuidado de trocar todo o madeiramento, o telhado e fez o forro já de forma a receber o trabalho. Todas as paredes serão cobertas e tudo será calafetado, tratado, marmorizado, inclusive as partes de découpage (decupagem)”, diz mais o artista, informando que a obra estará completa com o campanário, sino e vitrais.
Índio que já fez duas igrejas católicas, a de Santo Antonio e de Nossa Senhora Aparecida, ambas em Araxá, fez também um templo maçônico e uma igreja evangélica, mas garante que a obra na capela São José será uma das mais importantes, pela riqueza dos detalhes. “É uma obra diferente, nesse estilo rococó, barroquista, bem eclética. Já fiz muito trabalho importante, mas este aqui será o que marcará minha carreira, porque é muito poético, o ambiente, a localização. Este trabalho vai me marcar”, afirma, destacando que faz também cenários, maquiagens, pinturas diversas, fantasias, etc.
Para alegria do artista, Marco Antônio fará um catálogo com a obra realizada na Capela São José e a entregará ao pai de Índio, Emílio de Jesus, que nunca deu crédito a sua capacidade artística.
“- Papai era metalúrgico, mas sempre teve um dom para fabricar coisas. Sempre estava fazendo uma mesa, um rack, um guarda roupa, pinturas e eu sempre o admirei nesse trabalho. Mas os pais acham que a gente tem de ser advogado, médico, engenheiro, ou seja, tem que ser doutor, banqueiro... Não era isso que eu queria e parei de estudar, aí tive de me virar e decidi fazer pintura, fui comprando ferramentas e aos poucos fui descobrindo minhas habilidades com madeira e ferro. Meu pai, sempre, gostou de arte e hoje aposentado começou a pintar quadros. O Marco Antonio disse que no dia da inauguração vai trazê-lo aqui para ver o meu trabalho, vamos ver o que ele vai dizer”.
Marco Vinício é casado com Rosa Vilma, pais de três filhos.
Fazenda guarda relíquias
Apaixonado por peças antigas, o engenheiro Marco Antonio está organizando na Fazenda Boa Arte um acervo dessas preciosidades. Primeiro, os arados e a plantadeira de tração animal, usados pelo sogro, José Batista, no início da Cachaça Batista e uma replicado carro de bois utilizado para puxar a cana. Ao lado está a carroça adquirida em 1992, puxada pela égua Faísca, para o transporte da cana na fazenda Boa Sorte, no início do resgate da marca Batista, que é hoje, um complexo de última geração, totalmente informatizado, gerando 16 empregos diretos.
E agora, uma raridade, um rádio Capelinha da General Eletric (GE), fabricado em 1934, em comemoração o centenário do Rádio. A peça que está em perfeito estado e funciona foi presente de um amigo Nicolau Manssini, com certificado, nota fiscal e tudo. “Manssini sabe que gosto de coisas antigas e me presenteou com essa raridade”.